quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025

Avenida Duque de Ávila


Lisboa já se estendeu para norte. Ao Passeio Público, a Avenida da Liberdade passara-lhe por cima para ir dar à Rotunda. A partir daí (menos ambiciosas na sua largueza), diversas avenidas se abriram e, a seguir à (mais modesta) rotunda do Saldanha, nelas outras se cruzaram: as Avenidas Novas. Como esta ainda tão pacata e quase provinciana Avenida Duque de Ávila que aqui vemos, já percorrida por eléctricos, cujos fios, porém, são consertados, ainda, por carros puxados a cavalo.

Puxada a cavalo segue também, na outra via, uma carroça. O mundo - dir-se-ia - caminhava em frente e direito a nós. Equilibrado, embora, em dois pés: o passado e o presente. No meio, estão as poucas gentes que passam, insensíveis decerto à concomitância da História. Só os dois miúdos estacaram. Olhos postos no fotógrafo e no futuro.




quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

 PRAÇA DA FIGUEIRA


Marina Tavares Dias em «Os Melhores Postais de Lisboa», 1995:

Lembrando os "halles" de Paris, as longas galerias de ferro da Praça da Figueira multiplicavam-se em bancas diversas, áreas especializadas, aromas do campo e do mar. Flores, legumes, carnes, peixes, pequenas inutilidades. Muitos lenços brancos, xailes pretos, muitos vestidos pobres, muitos pregões, regateares, elogios e descomposturas.

Não deixa de ser simbólico que a mais antiga representação do mercado sobre postal ilustrado seja, afinal, uma imagem do interior. Porque era cá dentro que se justificava todo um modo de vida. Era cá dentro que se reuniam Lisboa e os arredores, como se consumava o destino da boa criação musculada no campo para ir morrer nas abastadas cozinhas dos bairros residenciais.

Depois deste, apenas outro postal - já em fototipia - reproduziria uma imagem das galerias. No entanto, a opção pela parte mais animada do dia, o pormenor e retoque de cada presença, a alegria traçada no calor das cores, favorecem em muito esta edição. Veracidade e sortilégio da fotografia: quase podemos assegurar que - por uma vez - deles prescindimos de bom grado.




sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

A FEIRA DA LADRA EM POSTAIS



Marina Tavares Dias em «Os Melhores Postais de Lisboa»:

Não é o mais raro postal da Feira da Ladra, mas é, sem dúvida, o mais apelativo. Mostra a zona compreendida entre o Arco de S. Vicente e o Mercado de Santa Clara, onde ainda hoje se reúnem feirantes. As bancas especializavam-se, sobretudo, em móveis e livros usados. Também não é de crer que o jovem que posa, quase ao centro da imagem, estivesse munido de cartão de estudante. Esta é a Feira tradicional, à margem de burocracias. Apesar dos eventuais objectos roubados, era um lugar pacato, onde quase todos se conheciam.