segunda-feira, 5 de agosto de 2013

25 ANOS DEPOIS

LISBOA DESAPARECIDA
de
MARINA TAVARES DIAS

volume II

Capítulo
OS GRANDES ARMAZÉNS DO CHIADO

'Em 1912, a firma alargou as instalações por toda a ala direita para a Rua Nova do Carmo, inaugurando também sucursais no Porto e em Coimbra, assim como uma grande fábrica na Rua da Bombarda, aos Anjos. A publicidade da época mostra-nos algumas das produções exclusivas da casa: cavalinhos de pasta, chapéus de palha, longos tapetes e, claro, todos os tipos de renda. Uma nova inauguração, com instalações melhoradas, deu direito a brindes aos fregueses, no dia 12 de Maio de 1913. Com vinte sucursais no continente e ilhas, a década seguinte preparou os proprietários para a aquisição do imóvel. O ano em que esta se concretizou – 1927 – acabou por ser de grandes dificuldades económicas. 

O processo do edifício dos Grandes Armazéns do Chiado [.../...] [obras numerada como 495 no Arquivo Intermédio da Câmara Municipal de Lisboa] revela que, nesse mesmo ano, os proprietários solicitam à Câmara um adiantamento das obras de restauro do imóvel, alegando dificuldades no financiamento das mesmas. Do mesmo processo (outro volume) consta um pedido felizmente indeferido para demolição do edifício. Tem a data de 27 de Abril de 1970 e refere a intenção dos herdeiros de Joaquim Nunes dos Santos: «construir uns grandes armazéns modernos». É possível que, entre estes mesmos herdeiros, as opiniões sobre o futuro do imóvel se dividissem já. 

Efectivamente, a venda dos armazéns, ocorrida cerca de dez anos depois, é ainda hoje recordada com muito pesar por alguns elementos da família Nunes dos Santos. Seja como for, o edifício foi vendido por 500 mil contos em 1980, a uma sociedade constituída por Manuel Martins Dias (dos supermercados Paga-Pouco) e José Pereira Dias (dos Armazéns do Conde Barão). Esta firma acumulou dívidas ao longo de cinco anos e o edifício voltou à praça em Maio de 1986, sendo adquirido pela Caixa Económica do Funchal (posteriormente Banco Internacional do Funchal), à qual Martins Dias nunca reconheceu a posse do imóvel. No dia 24 de Agosto de 1988, Martins Dias foi libertado, após a acusação de burlar uma companhia de seguros através de fogo posto no armazém Paga-Pouco de Tavira. O futuro dos Grandes Arrmazéns do Chiado não parecia brilhante, enquanto os trabalhadores, numa derradeira esperança, enviavam um pedido de classificação do edifício para o Instituto Português do Património Cultural.

Os Grandes Armazéns do Chiado arderam no dia 25 de Agosto de 1988. Arderam todos os andares, todo o recheio, e as colunas de mármore, os atlantes de estuque, os frescos dos tectos, as talhas de madeira do andar nobre. Arderam mesmo as duas figuras de bronze que mantinham guarda à porta e que pertenciam à colecção particular da família Nunes dos Santos. Do Palácio Barcelinhos ficou a fachada com as suas sacadas e brasão. E tinha ficado o belo alpendre de ferro forjado e fundido que foi o maior de Lisboa. Mas, esse, foi demolido pelas obras de «rescaldo» e pela incompetência de quem deveria ser responsável. '

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