segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

FERNANDA

MARINA TAVARES em LISBOA DESAPARECIDA:

«Particularmente agreste a tratar as mulheres, a má-língua popular celebrizou algumas por muito pouca coisa: a Libânia das Sinas, porque vendia as ditas numa caixinha de pau, ou a Madame Rebolona, porque tinha o costume de passar o dia a ler nos jardins. Poucas conheciam o proveito da fama que lhes era imposta. A sua única diferença era, muitas vezes, uma liberdade menos vigiada, na época em que - como dizia o «Pinheiro Maluco» (figura popular em 1920) - as mulheres se queriam em casa a coser meias. Mas houve quem tivesse vivido à altura do seu mito. Essa assombrosa mulher usava o pseudónimo de Preta Fernanda.»
Nascida em Cabo Verde, na ilha de S. Tiago, em Maio de 1859, Fernanda do Vale recebeu baptismo bem diferente do seu posterior "pseudónimo literário" [.../...].

A sua história completa está contada no volume III 
da LISBOA DESAPARECIDA
de MARINA TAVARES DIAS


Preta Fernanda, toureira 
(aguarela da Alberto de Souza, 1912) 


domingo, 21 de dezembro de 2014

PALHAVÃ

[...] Festa da Sociedade Hípica, no dia 12 de Março de 1911, no Velódromo de Palhavã. A prova foi ganha pelo tenente António Callado. O Velódromo, ponto de encontro da Lisboa elegante, fôra inaugurado em 1905, nos terrenos que tinham pertencido ao Jardim Zoológico. O local corresponde, hoje, aos primeiros edifícios do lado noroeste da Avenida de Berna

LISBOA DESAPARECIDA
de
MARINA TAVARES DIAS
volume III (Palhavã)





sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Do Aqueduto à Ribeira de Alcântara

A velha Calçada do Baltazar, onde Lisboa terminava. Lá estão a guarita e o soldado , marcando o limite da cidade (fotografia de Paulo Guedes, c. 1902). Actualmente, [...] prédios taparam a vista do aqueduto e, mais abaixo, já não corre o caneiro. A rua termina num muro, mas a ribeira ouve-se ainda correr, sob o pavimento.

LISBOA DESAPARECIDA
de
MARINA TAVARES DIAS, 
volume III



sábado, 6 de dezembro de 2014

S. Roque

Eis-nos, pois, em pleno Largo Trindade Coelho, face à velha igreja de S. Roque. "Toque, toque,toque. / Vamos a S. Roque / Ver os peraltas / Que usam capote". Sigamos o refrão anónimo e antigo. A pracinha sempre teve o nome da igreja, até que, em 1913, alguém resolveu baptizá-la de novo. Ninguém assumiu o topónimo. Todos a conhecem por Largo da Palmatória, alusão óbvia ao monumento que ostenta. Esta coluna, rematada por placa redonda, foi oferecida pela comunidade italiana na ocasião das bodas do rei D. Luís e de D. Maria Pia, em 1862.


LISBOA DESAPARECIDA
de
MARINA TAVARES DIAS
volume IV






terça-feira, 2 de dezembro de 2014

LISBOA DAS SETE COLINAS

«Lisboa, Augusta emula de Roma», com sete colinas veras ou ligeiramente pinceladas pela imaginação de historiadores e poetas. Assim será sempre, apesar das muralhas terem desaparecido, de novos eixos terem apontado em direcção ao norte, a ocidente e a oriente. Em vão se crismam novos horizontes, mas a cidade antiga prevalece e ninguém assimila qualquer outra suburbana «alta de Lisboa». O rigor orográfico nem sempre terá sido assegurado, mas no que diz respeito a Lisboa ser a cidade das sete colinas, estamos conversados. Sê-lo-á sempre. É desta majestosa desmaterialização que se fazem as lendas. O resto é apenas terra batida, onde as gerações vão construindo e o tempo vai destruindo. Sucessivamente.

Marina Tavares Dias
in 
Lisboa Desaparecida
volume IX
Capítulo 
Lisboa das Sete Colinas




domingo, 30 de novembro de 2014

Os primeiros transportes públicos urbanos

Marina Tavares Dias
em 
História do Eléctrico da Carris
(edição do centenário, 2001):

«Mas se as viagens de longa duração (nove dias do Porto até Lisboa) obrigavam já, no início do século XIX, ao uso de transportes colectivos, quase tudo estava ainda por fazer, em termos similares, no respeitante à circulação no interior das cidades. O primeiro quartel de 1800 é ainda, em Lisboa, dominado pelo transporte público de apenas dois assentos. A sege e o respectivo boleeiro constituem uma genealogia que ficou célebre na história da cidade. Inicialmente chamada «de colunas» e tirada por um único cavalo, já existia no século XVIII, tendo sofrido algumas alterações ao longo das décadas. A sege «moderna» baseava-se nos modelos ingleses: duas rodas, caixa muito larga, pintada, envernizada e montada sobre quatro molas. Fechava-se com cortinas de coiro engraxado, permitindo aos passageiros espreitar por dois óculos de vidro, abertos na frente. O estribo era subido e impraticável e as rodas altas demais para os solavancos das calçadas alfacinhas. Quando estavam livres para alugar, ostentavam uma bandeirinha bifurcada.»
[continua no livro]




quinta-feira, 27 de novembro de 2014

OS CAFÉS QUE FIZERAM HISTÓRIA DA CIDADE

Marina Tavares Dias em
prefácio de
OS CAFÉS DE LISBOA:

«Não há futuro sem memória. Por isso os antigos chamaram à Memória a mãe de todas as musas. O espaço cercado das cidades actuais, na sua azáfama diária, no seu trânsito caótico, nos seus eixos projectados para a periferia, parece ter consumido, portas dentro, os próprios ecos do passado recente. E os cenários antigos, agora justapostos aos novos hábitos e às novas concepções de espaço, terão perdido o rosto e a forma perceptíveis e primordiais. Ao olharmos para uma fotografia antiga do interior de um café, dos pormenores da sua fachada ou da sua frequência, pouco ou nada saberemos ver do que realmente lá esteve. Essa imagem enganadora está longe de valer as tais mil palavras. Atesta um aspecto incapaz de projectar a sua própria leitura neutra pois, para lá do que ali vemos, existe o que aquilo foi. Num tempo com outras motivações, outros hábitos, outros contextos estéticos, a imagem que resta mostra apenas o óbvio, ou o que hoje se nos afigura como tal.» 

(continua no livro)





domingo, 23 de novembro de 2014

Belém: a zona demolida em 1939






Marina Tavares Dias

em volume V de

LISBOA DESAPARECIDA

capítulo sobre Belém:

«Até ao ângulo oriental do grande conjunto do mosteiro, prolongava-se a Rua de Belém. A sua área desaparecida incluía mais três quarteirões a Sul, uma praça e outro quarteirão a Norte. Os últimos números de polícia são hoje o 128 e o 105. Antes de 1939, continuavam até ao 138 (lado da Confeitaria dos Pastéis de Belém) e ao 167. Todos os andares térreos eram ocupados por lojas. O chafariz abastecedor do bairro estava no centro do Largo Frei Heitor Pinto, a poente do quarteirão onde outrora se erguera o palácio dos duques de Aveiro. Também esse largo desapareceria, sacrificadas que foram as casas do lado ocidental, recolhendo o chafariz - como já vimos no respectivo capítulo - a depósito camarário, sendo mais tarde reconstruído no Largo do Mastro.»

Postal ilustrado fotográfico
de Eduardo Portugal. 1939.

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

O CAIS DO SODRÉ OITOCENTISTA

Marina Tavares Dias
em Lisboa Desaparecida
capítulo O Cais do Sodré:

[...] falar do Cais do Sodré é também falar da Lisboa queirosiana – e do seu Hotel Central. Eça refere-o em “Os Maias”, “A Capital”, “O Primo Basílio” e “A Correspondência de Fradique Mendes”. A primeira hospedaria que ocupou o quarteirão com os números 20-27 do largo (antigos números 3 a 11) chamava-se Estrella Branca (c. 1835). Em 1838 fora já trespassada à francesa Madame Lenglet que lhe deu o título de Hotel de France. Com uma sólida fama e um excelente serviço de mesa, o hotel recebeu hóspedes ilustres, entre eles o compositor Franz Liszt, na temporada de 1844-1845. Novamente trespassado (c. 1855), transforma-se no Hotel Central, supra-sumo da possível opulência lisboeta, com as suas ceias elegantes e as suas belas janelas então viradas para o Tejo. O Central foi, na Lisboa da segunda metade de Oitocentos, aquilo que o Avenida Palace viria a ser na Belle-Époque, ou o Aviz no tempo da Segunda Grande Guerra.[...]

[continua no livro]
Fotografia:
colecção Rocchini, c. 1858.





quarta-feira, 12 de novembro de 2014

LAVADEIRAS DOS ARRRABALDES

MARINA TAVARES DIAS
em LISBOA DESAPARECIDA
 capítulo sobre «Os Saloios»:


«[...] Quem deixou a principal referência da iconografia saloia foi uma figura que as estampas representam sempre de trouxa à cabeça: a lavadeira dos arrabaldes. A caravana atulhada de roupa branca, já lavada nas frescas águas das ribeiras mais próximas, chegava a Lisboa pela manhã. Distribuíam-se os fardos e renovava-se a encomenda. Certas estalagens alfacinhas transformaram-se em quartéis-generais do acolhimento ao saloio: A dos Camilos, ao pé da Praça da Figueira, e algumas outras no Poço dos Negros ou na Rua dos Poiais de S. Bento. Eram um misto de taberna, estábulo e casa de pasto [...]» (continua no livro)







domingo, 9 de novembro de 2014

A saga do namoro do final de Oitocentos não tem capítulo dedicado à privacidade






MARINA TAVARES DIAS

em
LISBOA DESAPARECIDA:

[...]
A saga do namoro lisboeta do final de Oitocentos não tem capítulo dedicado à privacidade. Nenhuma rede social da Internet poderá, hoje em dia, expor ao ridículo um namoro, do modo como era exposto, por força das circunstâncias, ainda em 1910. Todos os bilhetes trocados eram entregues a galegos moços-de-fretes, todas as confidências feitas da rua para o terceiro andar eram conhecidas pelos vizinhos e pelo guarda nocturno de giro. Um beijo era calamidade a discutir entre parentes, e a noiva raras vezes sabia do casamento antes dos familiares mais velhos terem acordado a data. 

Vários anos após a proclamação da República, ainda Mário de Sá-Carneiro conota Lisboa com casas escuras, cheiro a alfazema e «parentes que não deixam sair as raparigas». É perante este quotidiano que surge, em 1909, uma Liga Republicana das Mulheres Portuguesas defendendo já a promulgação da lei do divórcio. Entre as pioneiras estão, obviamente, as intelectuais da época, nomeadamente a única mulher que futuramente aparecerá retratada como um dos pioneiros da República: Ana de Castro Osório.
[CONTINUA NO LIVRO]

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

CAMPOLIDE

Marina Tavares Dias 
em volume III 
da 
Lisboa Desaparecida

[...] O Colégio de Campolide, construído na antiga Quinta da Torre, onde morou o guarda-jóias de D. João V. [...] vista do alto da torre em 1906, vendo-se o colégio à esquerda. Entre Monsanto, a ribeira e a encosta de Campolide, apenas se viam hortas e latadas.





segunda-feira, 3 de novembro de 2014

A Rainha D. Estefânia




A 8 de Julho de 1857, dia de Corpus Chisti, Estefânia de Hohenzollern-Sigmaringen terá decidido que casaria com o rei de Portugal. A ideia parece ter partido – e as Memórias do conde de Lavradio apontam nesse sentido – , mais uma vez, do príncipe Alberto de Inglaterra. [.../...] D. Estefânia parecia ser a única princesa católica à altura [...], proveniente de uma casa liberal, habituada como estava a um estilo de vida simples e conhecida que era a sua vocação para o estudo e para a caridade. A fama das virtudes do jovem monarca português [D. Pedro V] chegara [...] a Dusseldorf, sobretudo após a sua arriscada permanência em Lisboa durante o surto de cólera que [...] assolara a capital. [.../...] 
Os pais da princesa, concedendo-lhe opção sobre o assunto [...], não deixaram contudo de regozijar-se pelo pedido da sua mão.

Excertos de 
«D. Estefânia, 
uma Rainha, um Hospital e um Bairro de Lisboa»
em
Lisboa Desaparecida
volume VII
de
Marina Tavares Dias

domingo, 2 de novembro de 2014

OLISIPÓGRAFOS

MARINA TAVARES DIAS

em

prefácio a

HISTÓRIAS DE LISBOA

[...] Mercê do seu estatuto de anfíbio (é preciso não esquecer que muitas zonas urbanizadas da Lisboa actual foram, num passado remoto, rios e esteiros), o olisipógrafo sabe, sobretudo, remar contra a maré. E pouco se importa que as manhas centenárias raramente lhe paguem mais do que uma casa muito pequena, no centro de um bairro popular, riquíssimo de história e ostensivamente desprezado pela Polícia e pela vereação. Hoje como ontem, o olisipógrafo está só, perante o passado e o futuro, com Lisboa aos pés.

Como qualquer outro mortal, também o olisipógrafo é um anão aos ombros de gigantes. A sabedoria que tenta conquistar bebe inspiração no trabalho de milhares de autores, anónimos ou não, que escreveram muito antes de a palavra olisipografia ter sido inventada. Autores de relatos e de relatórios, de escritos e de descrições, de rotas e de roteiros, de registos, de assentos, de escrituras, de notícias curtas ou longas, assinadas ou não. Autores de poesia e de prosa, de ficção e de ensaio, de boa e de má literatura. Autores aparentemente imortais e autores totalmente esquecidos. A todos o olisipógrafo recorre, na sua insana busca de um dado concreto para uma homenagem, para um inventário, para uma simples cronologia. E a todos a seu modo ressuscita – ou gosta de pensar que tal faz – esperando dar-lhes, em troca do apoio prestado, um público de novas gerações, entre os escassos privilegiados que sabem ser a memória a mãe de todas as musas.


(CONTINUA NO LIVRO)


Em baixo:
Júlio de Castilho, 
o «pai» da olisipografia,
na sua casa do Lumiar
(fotografado pelo amigo José Artur Leitão Bárcia)
e
o seu busto no miradouro de Santa Luzia
(fotografado por Marina Tavares Dias)








sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Em vésperas do Dia dos Mortos (Fiéis Defuntos)

Marina Tavares Dias
em
Lisboa Misteriosa:

"As piadas macabras sempre andaram associadas aos defuntos e aos enterros. No entanto, aparecem quase inocentemente na publicidade. Muitos anos depois da recolha do Taful de Luneta, já no início do século XX, fazia furor em Lisboa o letreiro de um retiro que, situado no caminho seguido pelos funerais para o Alto de S.João, procurava cativar potenciais clientes. Ir dar de beber à dor antes da descida do defunto à sepultura seria impensável. Mas, no regresso, haveria de se molhar o bico. A subida era acentuada e o caminho, sobretudo no Verão, percorrido com sacrifício. Assim, o célebre Manuel dos Passarinhos tinha, em letras garrafais, sobre a porta, a toda a largura da fachada: «Não se Esqueçam na Volta / Bons Vinhos e Bons Petiscos». 

Tendo em conta a feira em tempos instalada mesmo à porta do Cemitério dos Prazeres, este retiro nem era muito ofensivo para os familiares dos «fiéis defuntos». A gradual laicização da sociedade, sobretudo após implantação da República, levou a que os cemitérios principais de Lisboa passassem a ser conhecidos por Oriental e Ocidental. Mas as velhas designações de cada um dos locais acabariam por vingar, parecendo ainda hoje estranho que alguém mande seguir um féretro para os Prazeres. Em implícitas promessas de um mundo melhor, nada bate, contudo, a actual Funerária da Ajuda e Boa-Hora (ou Boa-Hora e Ajuda). Pode dizer-se que abarca, só na designação, o «pack» completo da arte de bem morrer.[...]" (continua no livro)






quinta-feira, 30 de outubro de 2014

O Caracol da Penha

Marina Tavares Dias 
em Lisboa Misteriosa

" [...] a Penha de França pelo pintor Thomaz de Anunciação (1818-1878). O caminho que parte da igreja era conhecido por «caracol da Penha» e o seu traçado subsiste nos arruamentos a que deu lugar. Em primeiro plano, a cena campestre desenrola-se nos terrenos da actual Avenida Almirante Reis."






sábado, 18 de outubro de 2014

A Câmara Municipal de Lisboa trata assim os olisipógrafos


Marina Tavares Dias nem um agradecimento recebeu, por 30 anos a escrever sobre a cidade. Júlio de Castilho, o seu Mestre, tem a casa onde viveu neste estado.
Património municipal!







                 
    Fotografia: FST para Arquivo Marina Tavares Dias


Júlio de Castilho, o Mestre que trouxe Marina Tavares Dias para a olisipografia, ou seja, para Historiadora de Lisboa, morreu pobre, obrigado a vender a sua própria biblioteca. Ainda assim, deixou tudo o que conseguiu preservar ao Estado: Torre do Tombo, Biblioteca Nacional, etc. A casa, agora destruida, era o seu refúgio e a sua paixão. Aqui está o seu cantinho preferido em 1904. Agora, destruído, sem papel de parede, sem janelas, nem tecto ou telhado. Casa pertencente à CML! Ou, ainda mais grave, pela Câmara vendida há pouco tempo, e pela calada.




 Fotografia: FST 
para Arquivo Marina Tavares Dias


quinta-feira, 9 de outubro de 2014

CAPOTE E LENÇO


O traje típico de Lisboa: capote e lenço. 
Em Lisboa Desaparecida,volume III, 
de Marina Tavares Dias :
«Quando o "josezinho" encarnado ficou sendo pertença exclusiva das saloias de Loures, Queluz ou Mafra, e os lenços de cambraia e musselina foram por estas substituídos pelos barretes, as alfacinhas começaram a talhar o capote em linhas direitas e austeras. O lenço inicial manteve-se, mas, de tão ensopada em goma, a tarlatana branca já nem tocava o pescoço. »
(continua no livro)









quarta-feira, 1 de outubro de 2014

«ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA

Convento antes de ser Palácio das Cortes, Assembleia Nacional e Assembleia da República, S. Bento foi também , no tempo da peste de 1569, hospital improvisado. O terramoto de 1755 pouco o afectou e, logo em 1757, veio instalar-se aqui o principal arquivo português: o Arquivo Nacional da Torre do Tombo. Em 1834, passou a albergar as câmaras dos Deputados e dos Pares. Destruído por um incêndio em 1895, o edifício estava ainda em obras no início do século XX, sob projecto de Ventura Terra. De 1917 a 1938, construíram-se as novas fachadas, assim como um corpo avançado com frontão e uma escadaria monumental [...]» 
(continua no livro)
PHOTOGRAPHIAS DE LISBOA
por: Marina Tavares Dias.



Palácio das Cortes,
 antigo mosteiro de S. Bento, 
no início do último quartel do século XIX. 
Fotografia de Francesco Rocchini.

sábado, 27 de setembro de 2014

A Feira Popular de Palhavã

«A Feira Popular de Palhavã, inaugurada em 1943 como apoio à Colónia Balnear Infantil de “O Século”.
Quando a Feira Popular se instalou nos terrenos do antigo Parque José Maria Eugénio de Almeida, Lisboa era uma cidade que mantinha hábitos antigos, semiprovincianos. Assim, aquele que foi apresentado em jornais e revistas como “o primeiro luna-parque português permanente” juntava às modernas atracções e aos divertimentos mais sofisticados todas as heranças da tradicional feira de rua: barracas de comes e bebes, bazares de tostão, tiro ao alvo e pim-pam-pum. [...]»





Continua em:
Lisboa nos Anos 40 – Longe da Guerra
de
Marina Tavares Dias

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

A TORRINHA do Parque Eduardo VII

Marina Tavares Dias
em Photographias de Lisboa:


A TORRINHA
de quinta com o mesmo nome morava no futuro Parque Eduardo VII desde 1764. A seguir ao terramoto, estas terras do Vale do Pereiro eram inóspitas e de mau cultivo. Após a extinção das ordens religiosas (1835) foram divididas por vários proprietários rurais
[.../...]. A Torrinha foi a última resistente ao plano do Parque Eduardo VII. Veio abaixo em Abril de 1916. 

(continua no livro)



segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Lisboa, 1908

MENÇÃO HONROSA
Valmor em 1908, a casa de Branco Rodrigues foi projectada por Manuel Joaquim de Norte Junior, um dos mais celebrados arquitectos do início do século. Este pequeno edifício ocupava o gaveto com o número 36 da Avenida da República, fronteiro ao "chalet" da Viscondessa de Valmor (arq.Ventura Terra, 1906, ainda existente). Nesse ano de 1908, o Prémio foi para Adães Bermudes, com o número 2 da Av: Almirante Reis. Este último ainda existe, mas o palacinho da foto foi demolido em 1950.


(continua no livro)
Em: 

Photographias de Lisboa
de 
Marina Tavares Dias
1989



bilhete postal ilustrado de Paulo Guedes,
editado em 1908, circulado em 1909

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

A LISBOA DE EÇA DE QUEIROZ

Marina Tavares Dias 
em  

LISBOA DE EÇA DE QUEIROZ

Pag. 26
Modificações do Rossio ao longo da segunda metade do século XIX. Os pais de Eça moravam no quarto andar do prédio número 26 (sobre o actual Café Nicola, do lado ocidental da praça) e foi esta a morada do escritor entre 1866 e 1872. Em 1898, durante as comemorações do Centenário da Índia, Eça está em Lisboa e assiste, da janela, ao cortejo.

(continua no livro)







quarta-feira, 10 de setembro de 2014

BANHA DA COBRA

Photographias de Lisboa
de
Marina Tavares Dias :

«DEITEM-SE OS PÓS
n'um copo d'agua», diz o pelotiqueiro desencantado por Benoliel ali à praça Luiz de Camões, na fronteira do Bairro Alto. A reportagem do dia 6 de Junho de 1910 revela que os charlatães resolvem todos os problemas, desde a febre dos fenos até aos bicos de papagaio. Nesta época, estão por Lisboa toda. "Lisboa toda", salienta o articulista, é "o Chiado, a Rua do Ouro, o Rocio, parte da Avenida, as secretarias de Estado e o ambinete secreto de certos ninhos galantes". A todos, o charlatão leva os seus pós e o seu conforto. E a Praça de Camões é sempre um mar de gente.




sábado, 6 de setembro de 2014

A FADISTA MARIA VICTORIA

Marina Tavares Dias 
em
Lisboa Desaparecida

volume IV,
capítulo sobre O Fado:

«Na cronologia mitológica do fado, um nome ficou escrito entre o da Severa e o de Amália: Maria Victoria. Morta aos 24 anos, antes do previsto apogeu da curta carreira teatral, Maria Victoria teve uma única homenagem póstuma: o teatro mais antigo do Parque Mayer, inaugurado em 1922, a que foi dado o seu nome.
Em 1913, a dois anos de morrer, já se resumia em balanço no "Fado da Estúrdia", da celebérrima revista "O 31". E cantava: "Tenho o sangue da Severa (...) / O fogo da Júlia Mendes / A telha de Ângela Pinto". Apesar de todo este anunciado esplendor, o curto trajecto de Maria Victoria não lhe permitiu colher louros do seu talento. Em vão procuramos, hoje, os escassos dados biográficos divulgados na época. Sobre ela caiu, a partir de 1915, o pano do silêncio.»
[...]
«O "Diário de Notícias" anunciou a morte, ocorrida a 30 de Abril desse ano,nas parcas 25 linhas concedidas aos "jovens talentos", omitindo a data de nascimento (1891) e a origem da doença que a vitimou. Mais generoso que os outros jornais, paginava, contudo, um pequeno retrato, acompanhando o vago epitáfio: "Dispondo de uma pequena voz, Maria Victoria conseguiu uma certa celebridade pela graça e leveza que imprimia aos pequenos papéis que lhe distribuíam".»

[continua no livro]





quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Ainda as típicas varinas de Lisboa

Lisboa muda muito, após 1755. Os lisboetas, também. Mas a cidade do final do século XVIII e de todo o século XIX é ainda um imenso carrocel de costumes e de animados pregões. Símbolo do novo abastecimento, surgem, no século XIX, os grandes mercados cobertos. Pela madrugada, continuam a chegar, de carroça, os víveres cultivados nos arredores. São vendidos também de porta em porta: o leite, a hortaliça, a fruta, a criação. O século XIX vê também nascer a mais famosa figura das ruas: a varina de Lisboa.

gravura da Biblioteca Nacional


Fotografia 'carte-de-visite' 
do estúdio Solas


Fotografia de Joshua Benoliel


terça-feira, 2 de setembro de 2014

Animação numa praia perdida

Marina Tavares Dias 
em 
Lisboa Antes e Agora:

«Local: Praia de Algés

Data: c. 1902

Autor: fotógrafo da Casa 92 (Rua Nova do Almada)



Legenda: Cães amestrados em espectáculo para crianças, na praia de Algés. Depois da moda da praia de Pedrouços, que durou de meados de Oitocentos até à viragem para o século XX, o caminho-de-ferro viria, gradualmente, trazer os veraneantes para praias mais longe do centro da cidade. Algés era ainda moda quando esta fotografia foi tirada. Em breve, e em linha recta no espaço e no tempo, seria substituída pela Cruz Quebrada, por Oeiras e pelos Estoris [...]»

terça-feira, 26 de agosto de 2014

25 de Agosto de 1988


Ao cair da tarde do dia 25 de Agosto de 1988, com a área ardida delimitada e em rescaldo, os bombeiros que combateram o incêndio do Chiado podiam finalmente fazer uma refeição ligeira, com os mantimentos que, durante todo o dia, a população da cidade foi entregando ali perto. Os painéis publicitários das lojas, alguns com quase um século, sobreviveriam ao incêndio, mas não às obras de «rescaldo», feitas à pressa e sem critério.





quinta-feira, 21 de agosto de 2014

JOSHUA BENOLIEL por MARINA TAVARES DIAS





Conhecia meio mundo e tinha fotografado mais do que isso. Aparecia nas visitas régias, nos banquetes e nas inaugurações oficiais, nas comemorações, nos comícios e nos cortejos. Estava às primeiras horas da madrugada entre os pregoeiros da lota, de máquina fotográfica em riste, para imortalizar os pés descalços dos pequenos ardinas ou o esforço hercúleo das peixeiras nas descargas do carvão. Conheciam-no bem e à légua, abriam alas para que passasse, com os seus ajudantes e as toneladas de acessórios, facultando-lhe o ângulo ideal em que fotografava os tumultos duma greve ou os prantos por um assassínio. E havia uma frase mágica que Joshua Benoliel lançava sempre ao vento e aos circunstantes, na sua luta para captar o fugidio instante do retrato: “É para ‘O Século’! É para ‘O Século’!”



Retiremos hoje as aspas desse título, a própria evocação de um jornal centenário que morreu pelas ruas da amargura; façamos da História a ciência amoral que é; espraiemo-nos então nesta insuspeitada analogia: Joshua Benoliel dizia a todos a verdade mais pura e simples, com as suas palavras destinadas apenas, talvez, a que o deixassem passar. Ele estava, realmente, a fotografar para o século.



A herança fotográfica das cidades não é obra daqueles que julgaram estar a criá-la. A herança fotográfica das cidades é obra de contingências várias, determinantes do destino de cada pessoa e de cada espólio. Nunca saberemos o que se perdeu com o desaparecimento de “ateliers”, estúdios e casas centenárias onde, ao longo de décadas, muitos fotógrafos se dedicaram à recolha de imagens da tão celebrada “Lisboa na Rua”. Sabemos que, daquilo que chegou até nós, nada se compara com a vasta e talentosa obra de Joshua Benoliel. Para todos os efeitos, para todos os tempos, será ele o fotógrafo da Lisboa de sempre e do Portugal de 1900. Os nosso Atget dos pequenos misteres da rua, o nosso Nadar dos retratos célebres, a nossa referência no olhar remissivo sobre locais desaparecidos, personagens mortas, modos de vida agora incompreensíveis, eventos históricos dos quais teria ficado, apenas, a análise transfiguradora da palavra. Mas, frente a D. Carlos no hipódromo ou a D. Manuel no Parlamento, frente a Teófilo Braga no carro eléctrico ou a Sidónio Pais no gabinete, Benoliel montou o seu tripé e fotografou para o futuro, para o século. É dele a herança fotográfica portuguesa – se é que essa herança existe. Na árvore do seu estilo entroncaram muitos ramos e muitas escolas, e dela nasceram, depois, muitas análises e muitas investigações.



Joshua Benoliel, britânico e judeu de origem, nasceu em parte incerta, a 13 de Janeiro de 1873. Embora vários jornais o tenham dado como alfacinha de gema, alguns investigadores crêem hoje ter sido Gibraltar a cidade natal, hipótese essa que ouvi, em tempos, confirmada por um dos seus antigos assistentes, o fotógrafo Horácio Novaes. Não se sabe quando arribou à capital ou mesmo quando terá começado a fotografar. A sua primeira série fotográfica conhecida, para o jornal “O Tiro Civil”, é de 1898. Assina-a como “amador”. Nesse tempo seria ainda, de acordo com o investigador José Luís Madeira, empregado alfandegário. O seu primeiro trabalho “profissional” conhecido é um álbum de fotografias oferecido ao rei D. Carlos em 1903. Apenas por volta de 1906, em pleno apogeu da revista “Illustração Portugueza”, Joshua Benoliel se transforma no sinónimo de um género então emergente: a foto-reportagem. Contratado – inicialmente sem pagamento certo – pela poderosa empresa do jornal “O Século”, são-lhe então franqueadas as portas de quase tudo o que é comemoração régia ou recepção no Paço. Mas nem por isso Benoliel deixará de regressar à rua, à lida quotidiana da cidade popular, para captar aquelas que virão a ser, no futuro, as suas imagens mais famosas. E é na rua, entre barricadas e festejos, que a jovem República o irá encontrar. O fotógrafo das visitas dos monarcas estrangeiros, das gincanas reais na parada de Cascais, do jovem e recém-aclamado D. Manuel, transformar-se-á em retratista semi-oficial dos primeiros Presidentes portugueses.



Era o tempo em que, trabalhando com máquinas enormes e negativos de vidro, cada fotógrafo arrastava consigo um autêntico arsenal, o que dispunha muitos a largar um tema assim que dele julgavam ter extraído a imagem desejada. Benoliel, morador num andar alto da Rua Ivens, não se dava por satisfeito com uma só abordagem de cada assunto. A sua obra regressa ciclicamente aos mesmos costumes lisboetas e aos cenários importantes do seu tempo. Muitas vezes terá ido de propósito à Redacção de “O Século” deixar o equipamento, só para não ter de subir para casa com tudo aquilo às costas. O escritor e jornalista Rocha Martins – que para ele inventa o epíteto de “Rei dos Fotógrafos” – diz que, por altura da sua morte (em 1932), Benoliel tinha em casa cerca de 60 mil negativos, todos arrumados no corredor. Uma boa parte das fotografias que fizeram as reportagens da “Illustração Portugueza” foi dispersa (provavelmente vendida pelo filho, Judah, também ele fotógrafo) logo após a sua morte. Algumas dessas chapas (cerca de 4 mil) estão hoje no Arquivo Fotográfico da Câmara Municipal de Lisboa. A Assembleia da República, o Museu de Marinha, o Automóvel Clube de Portugal, a Guarda Nacional Republicana e alguns arquivos particulares possuem também pequenos conjuntos do seu trabalho. Em 1970, a segunda geração dos herdeiros de Benoliel entregou ainda vários milhares de negativos ao jornal “O Século”. Extinto este poucos anos depois, transitaram os “clichés” para a Fototeca do Palácio Foz onde, graças ao desvelo do seu conservador – Avelino Soares –, puderam ser preservados e postos à disposição dos investigadores.



Além de vastíssima colaboração na segunda série da “Illustração Portugueza” (de 1906 até, pelo menos, 1918) e em várias outras publicações dela contemporâneas, o trabalho de Benoliel está divulgado, em estilo de “balanço”, no “Arquivo Gráfico” (colecção comemorativa, editada postumamente em 1935, da qual foram publicados apenas seis números). Rocha Martins traça-lhe, aí, breve biografia, deixando para a posteridade algumas histórias com o fotógrafo como protagonista. Uma delas passa-se no dia da procissão da Senhora da Saúde. O infante D. Afonso (irmão do rei D. Carlos) desfilava habitualmente, como artilheiro do reino. Estrategicamente colocado nas ruas da Mouraria, Benoliel espera pelo momento que dará a capa da próxima “Illustração Portugueza”. Ao avistar D. Afonso, brada, gesticulando: “Parem lá!” E a multidão pára, como se tivesse ouvido a voz de Deus, parando com ela, inteira, a procissão no meio da rua. O fotógrafo bate então o seu “cliché”, gritando após ele nova ordem: “Pode seguir!” Quase se pode dizer que, adivinhando por escassos segundos a importância futura da obra de Benoliel, foi a própria História quem ali parou, para estar à altura duma fotografia.

Marina Tavares Dias











Fotografias:
As varinas de Lisboa, fotografadas dezenas de vezes por Benoliel 
(negativos pertencentes ao Arquivo Municipal de Lisboa)