de
MARINA
TAVARES DIAS
PRAIA COM VESTIÁRIO ÀS COSTAS
O
barracão de madeira era imprescindível em qualquer praia. Foi-o até ao início do
século XX. Começou por ser erguido sobre estacas, lançando pranchas sobre a
água, porque os banhistas não queriam areia nos pés. A distância calculada, havia
sempre mirones, no fito de verem as senhoras escorregar e estatelarem-se nos
braços do banheiro. O António Maria, jornal
humorístico dirigido por Rafael Bordalo Pinheiro, publicava hilariantes poemas
estivais: «Afirma a D. Mafalda/ Que o brejeirete do Henrique// Tem uma pecha,
uma balda:/ Esburacar o tabique,/ Ver as banhistas em fralda!// E não lhe
escapa nenhuma/ Do feminino rebanho!/ Tem-nas visto uma por uma!/ - Se ele até
não vai p'ra o banho/ Sem se munir de verruma!// [.../...] Bispa uma perna...
Oh! ventura!/ Que perna arrebatadora,/ Da mais delicada alvura./ - Deve ser
duma senhora/ De respeitável altura!...// Tosga um joelho... Que bom!/ Na forma
e beleza rara/ Mostra que é dama de tom.../ Mas nisto, vendo-lhe a cara,/ Solta
um grito...Era o Brion!...»
Nas duas primeiras décadas do século passado, o barracão de
banhos dispensava já a prancha, mas continuava a zelar pelo recato de quem se
despia antes do mergulho. Em meados de Agosto, antes da temporada alta, os
banheiros desencantavam a velha construção riscada que estava a ganhar pó desde
Novembro do ano anterior. E era vê-los pelas calçadas de Pedrouços e de Algés,
de casa às costas e acompanhados pela Guarda, a preparar o conforto das praias.
Pelo caminho, as ruas vinham à janela.
(excerto de texto publicado na revista VISÃO)