LISBOA DESAPARECIDA
de
MARINA TAVARES DIAS
volume II
Capítulo
OS GRANDES ARMAZÉNS DO CHIADO
'Em 1912, a firma alargou as
instalações por toda a ala direita para a Rua Nova do Carmo, inaugurando também
sucursais no Porto e em Coimbra, assim como uma grande fábrica na Rua da
Bombarda, aos Anjos. A publicidade da época mostra-nos algumas das produções
exclusivas da casa: cavalinhos de pasta, chapéus de palha, longos tapetes e,
claro, todos os tipos de renda. Uma nova inauguração, com instalações melhoradas,
deu direito a brindes aos fregueses, no dia 12 de Maio de 1913. Com vinte
sucursais no continente e ilhas, a década seguinte preparou os proprietários
para a aquisição do imóvel. O ano em que esta se concretizou – 1927 – acabou
por ser de grandes dificuldades económicas.
O processo do edifício dos Grandes
Armazéns do Chiado [.../...] [obras numerada como 495 no Arquivo Intermédio da Câmara
Municipal de Lisboa] revela que, nesse mesmo ano, os proprietários solicitam à
Câmara um adiantamento das obras de restauro do imóvel, alegando dificuldades
no financiamento das mesmas. Do mesmo processo (outro volume) consta um pedido
felizmente indeferido para demolição do edifício. Tem a data de 27 de Abril de
1970 e refere a intenção dos herdeiros de Joaquim Nunes dos Santos: «construir
uns grandes armazéns modernos». É possível que, entre estes mesmos herdeiros,
as opiniões sobre o futuro do imóvel se dividissem já.
Efectivamente, a venda
dos armazéns, ocorrida cerca de dez anos depois, é ainda hoje recordada com
muito pesar por alguns elementos da família Nunes dos Santos. Seja como for, o
edifício foi vendido por 500 mil contos em 1980, a uma sociedade constituída
por Manuel Martins Dias (dos supermercados Paga-Pouco) e José Pereira Dias (dos
Armazéns do Conde Barão). Esta firma acumulou dívidas ao longo de cinco anos e
o edifício voltou à praça em Maio de 1986, sendo adquirido pela Caixa Económica
do Funchal (posteriormente Banco Internacional do Funchal), à qual Martins Dias
nunca reconheceu a posse do imóvel. No dia 24 de Agosto de 1988, Martins Dias
foi libertado, após a acusação de burlar uma companhia de seguros através de fogo
posto no armazém Paga-Pouco de Tavira. O futuro dos Grandes Arrmazéns do Chiado
não parecia brilhante, enquanto os trabalhadores, numa derradeira esperança,
enviavam um pedido de classificação do edifício para o Instituto Português do Património
Cultural.
Os Grandes Armazéns do Chiado arderam no dia 25 de Agosto de 1988.
Arderam todos os andares, todo o recheio, e as colunas de mármore, os atlantes
de estuque, os frescos dos tectos, as talhas de madeira do andar nobre. Arderam
mesmo as duas figuras de bronze que mantinham guarda à porta e que pertenciam à
colecção particular da família Nunes dos Santos. Do Palácio Barcelinhos ficou a
fachada com as suas sacadas e brasão. E tinha ficado o belo alpendre de ferro
forjado e fundido que foi o maior de Lisboa. Mas, esse, foi demolido pelas
obras de «rescaldo» e pela incompetência de quem deveria ser responsável. '