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quinta-feira, 9 de abril de 2015

QUIOSQUE PORTÁTIL





Os quiosques dos bairros populares, cujas ruas eram estreitas e muitas vezes íngremes, adaptaram-se ao meio através do modo e materiais de fabrico. Quase sempre confeccionados em madeira, eram portáteis e mudavam de local seguindo romarias e outros aglomerados humanos. Aqui fica a revelação. O desenvolvimento ficará no livro. Lisboa Desaparecida, de Marina Tavares Dias, volume X (ainda inédito).


terça-feira, 2 de dezembro de 2014

LISBOA DAS SETE COLINAS

«Lisboa, Augusta emula de Roma», com sete colinas veras ou ligeiramente pinceladas pela imaginação de historiadores e poetas. Assim será sempre, apesar das muralhas terem desaparecido, de novos eixos terem apontado em direcção ao norte, a ocidente e a oriente. Em vão se crismam novos horizontes, mas a cidade antiga prevalece e ninguém assimila qualquer outra suburbana «alta de Lisboa». O rigor orográfico nem sempre terá sido assegurado, mas no que diz respeito a Lisboa ser a cidade das sete colinas, estamos conversados. Sê-lo-á sempre. É desta majestosa desmaterialização que se fazem as lendas. O resto é apenas terra batida, onde as gerações vão construindo e o tempo vai destruindo. Sucessivamente.

Marina Tavares Dias
in 
Lisboa Desaparecida
volume IX
Capítulo 
Lisboa das Sete Colinas




quinta-feira, 21 de agosto de 2014

JOSHUA BENOLIEL por MARINA TAVARES DIAS





Conhecia meio mundo e tinha fotografado mais do que isso. Aparecia nas visitas régias, nos banquetes e nas inaugurações oficiais, nas comemorações, nos comícios e nos cortejos. Estava às primeiras horas da madrugada entre os pregoeiros da lota, de máquina fotográfica em riste, para imortalizar os pés descalços dos pequenos ardinas ou o esforço hercúleo das peixeiras nas descargas do carvão. Conheciam-no bem e à légua, abriam alas para que passasse, com os seus ajudantes e as toneladas de acessórios, facultando-lhe o ângulo ideal em que fotografava os tumultos duma greve ou os prantos por um assassínio. E havia uma frase mágica que Joshua Benoliel lançava sempre ao vento e aos circunstantes, na sua luta para captar o fugidio instante do retrato: “É para ‘O Século’! É para ‘O Século’!”



Retiremos hoje as aspas desse título, a própria evocação de um jornal centenário que morreu pelas ruas da amargura; façamos da História a ciência amoral que é; espraiemo-nos então nesta insuspeitada analogia: Joshua Benoliel dizia a todos a verdade mais pura e simples, com as suas palavras destinadas apenas, talvez, a que o deixassem passar. Ele estava, realmente, a fotografar para o século.



A herança fotográfica das cidades não é obra daqueles que julgaram estar a criá-la. A herança fotográfica das cidades é obra de contingências várias, determinantes do destino de cada pessoa e de cada espólio. Nunca saberemos o que se perdeu com o desaparecimento de “ateliers”, estúdios e casas centenárias onde, ao longo de décadas, muitos fotógrafos se dedicaram à recolha de imagens da tão celebrada “Lisboa na Rua”. Sabemos que, daquilo que chegou até nós, nada se compara com a vasta e talentosa obra de Joshua Benoliel. Para todos os efeitos, para todos os tempos, será ele o fotógrafo da Lisboa de sempre e do Portugal de 1900. Os nosso Atget dos pequenos misteres da rua, o nosso Nadar dos retratos célebres, a nossa referência no olhar remissivo sobre locais desaparecidos, personagens mortas, modos de vida agora incompreensíveis, eventos históricos dos quais teria ficado, apenas, a análise transfiguradora da palavra. Mas, frente a D. Carlos no hipódromo ou a D. Manuel no Parlamento, frente a Teófilo Braga no carro eléctrico ou a Sidónio Pais no gabinete, Benoliel montou o seu tripé e fotografou para o futuro, para o século. É dele a herança fotográfica portuguesa – se é que essa herança existe. Na árvore do seu estilo entroncaram muitos ramos e muitas escolas, e dela nasceram, depois, muitas análises e muitas investigações.



Joshua Benoliel, britânico e judeu de origem, nasceu em parte incerta, a 13 de Janeiro de 1873. Embora vários jornais o tenham dado como alfacinha de gema, alguns investigadores crêem hoje ter sido Gibraltar a cidade natal, hipótese essa que ouvi, em tempos, confirmada por um dos seus antigos assistentes, o fotógrafo Horácio Novaes. Não se sabe quando arribou à capital ou mesmo quando terá começado a fotografar. A sua primeira série fotográfica conhecida, para o jornal “O Tiro Civil”, é de 1898. Assina-a como “amador”. Nesse tempo seria ainda, de acordo com o investigador José Luís Madeira, empregado alfandegário. O seu primeiro trabalho “profissional” conhecido é um álbum de fotografias oferecido ao rei D. Carlos em 1903. Apenas por volta de 1906, em pleno apogeu da revista “Illustração Portugueza”, Joshua Benoliel se transforma no sinónimo de um género então emergente: a foto-reportagem. Contratado – inicialmente sem pagamento certo – pela poderosa empresa do jornal “O Século”, são-lhe então franqueadas as portas de quase tudo o que é comemoração régia ou recepção no Paço. Mas nem por isso Benoliel deixará de regressar à rua, à lida quotidiana da cidade popular, para captar aquelas que virão a ser, no futuro, as suas imagens mais famosas. E é na rua, entre barricadas e festejos, que a jovem República o irá encontrar. O fotógrafo das visitas dos monarcas estrangeiros, das gincanas reais na parada de Cascais, do jovem e recém-aclamado D. Manuel, transformar-se-á em retratista semi-oficial dos primeiros Presidentes portugueses.



Era o tempo em que, trabalhando com máquinas enormes e negativos de vidro, cada fotógrafo arrastava consigo um autêntico arsenal, o que dispunha muitos a largar um tema assim que dele julgavam ter extraído a imagem desejada. Benoliel, morador num andar alto da Rua Ivens, não se dava por satisfeito com uma só abordagem de cada assunto. A sua obra regressa ciclicamente aos mesmos costumes lisboetas e aos cenários importantes do seu tempo. Muitas vezes terá ido de propósito à Redacção de “O Século” deixar o equipamento, só para não ter de subir para casa com tudo aquilo às costas. O escritor e jornalista Rocha Martins – que para ele inventa o epíteto de “Rei dos Fotógrafos” – diz que, por altura da sua morte (em 1932), Benoliel tinha em casa cerca de 60 mil negativos, todos arrumados no corredor. Uma boa parte das fotografias que fizeram as reportagens da “Illustração Portugueza” foi dispersa (provavelmente vendida pelo filho, Judah, também ele fotógrafo) logo após a sua morte. Algumas dessas chapas (cerca de 4 mil) estão hoje no Arquivo Fotográfico da Câmara Municipal de Lisboa. A Assembleia da República, o Museu de Marinha, o Automóvel Clube de Portugal, a Guarda Nacional Republicana e alguns arquivos particulares possuem também pequenos conjuntos do seu trabalho. Em 1970, a segunda geração dos herdeiros de Benoliel entregou ainda vários milhares de negativos ao jornal “O Século”. Extinto este poucos anos depois, transitaram os “clichés” para a Fototeca do Palácio Foz onde, graças ao desvelo do seu conservador – Avelino Soares –, puderam ser preservados e postos à disposição dos investigadores.



Além de vastíssima colaboração na segunda série da “Illustração Portugueza” (de 1906 até, pelo menos, 1918) e em várias outras publicações dela contemporâneas, o trabalho de Benoliel está divulgado, em estilo de “balanço”, no “Arquivo Gráfico” (colecção comemorativa, editada postumamente em 1935, da qual foram publicados apenas seis números). Rocha Martins traça-lhe, aí, breve biografia, deixando para a posteridade algumas histórias com o fotógrafo como protagonista. Uma delas passa-se no dia da procissão da Senhora da Saúde. O infante D. Afonso (irmão do rei D. Carlos) desfilava habitualmente, como artilheiro do reino. Estrategicamente colocado nas ruas da Mouraria, Benoliel espera pelo momento que dará a capa da próxima “Illustração Portugueza”. Ao avistar D. Afonso, brada, gesticulando: “Parem lá!” E a multidão pára, como se tivesse ouvido a voz de Deus, parando com ela, inteira, a procissão no meio da rua. O fotógrafo bate então o seu “cliché”, gritando após ele nova ordem: “Pode seguir!” Quase se pode dizer que, adivinhando por escassos segundos a importância futura da obra de Benoliel, foi a própria História quem ali parou, para estar à altura duma fotografia.

Marina Tavares Dias











Fotografias:
As varinas de Lisboa, fotografadas dezenas de vezes por Benoliel 
(negativos pertencentes ao Arquivo Municipal de Lisboa)



terça-feira, 22 de julho de 2014

PALHAVÃ.

MARINA TAVARES DIAS em LISBOA DESAPARECIDA III:





Senhora no Velódromo de Palhavã (fotografia A. Novaes, c. 1915). O velódromo ocupava uma parte do antigo Parque de Santa Gertrudes, dividido em Palhavã pela passagem da futura Avenida de Berna. O local exacto situa-se onde esteve a primeira versão do Teatro Aberto e terrenos em redor.

segunda-feira, 23 de junho de 2014

A Praia 1900
por Marina Tavares Dias

Por incrível que possa parecer, os melhores meses de praia nem sempre foram de Verão. No início do século XX, as famílias abastadas rumavam ao campo nos dias mais quentes. Quintas e hortas dos arredores contavam como campo, e era precisamente aí que muita gente possuía segunda casa, destinada ao veraneio. Cuidava-se de não manter a tez exposta ao sol, pois não se desejaria ser visto em sociedade ostentando bronzeado próprio dos trabalhadores rurais. Quando o sol deixava de ser ameaça, fazia-se então a temporada de praia, quase sempre quando o mês de Outubro já ia adiantado. Ainda assim, a maior parte das pessoas permanecia vestida, sob resguardo de toldos, barracas ou sombrinhas. (.../...)
[continua]



terça-feira, 29 de abril de 2014

O Amola- Tesouras das nossas ruas

Alguns dos pregões (anúncios ambulantes) mais repetidos ao longo de todo o século XIX são impossíveis de reproduzir graficamente. O do ferro-velho, por exemplo, que se resumia a um rangido áspero, estridente, interminável. O uivo do galego aguadeiro, servindo de mote para assustar meninos mal-portdos. Ou o silvado da gaita do amola-tesouras-e-navalhas, hoje sobrevivente quase isolado no cancioneiro das ruas. Agora quase sempre de biccicleta (embora ainda os haja de «aparelho» completo; rodas e lima, circulando no pino da afinação.
Com a crise, multiplicaram-se. Para os estrangeiros, sobretudo para os franceses dedicados à cartofilia, é difícil explicar que um «petit métier» dos mais antigos e cotados em termos de postais antigos ainda existe em Lisboa, ao virar da esquina, para quem queira fazer postais «animés», «non-posés» e... editados em 2014.

MARINA TAVARES DIAS
«Vendedores e Pregões»,
um dos capítulos da
LISBOA DESAPARECIDA



quarta-feira, 2 de abril de 2014

Ouro é na ourivesaria. E a rua chama-se Áurea




Há quem trate como «exportação» as toneladas de ouro que saíram de Portugal na última década, através das peças desfeitas, desmanchadas, destruídas para fazer barras de ouro a peso. Não louvo o discernimento de quem o faz. 

A venda de ouro a peso é responsável pela destruição de verdadeiras obras-primas da filigrana e da mão-de-obra portuguesa, numa época em que cada miniatura, cada medalha gravada, resumia o estilo e o talento do ourives que a fabricava. Torres de Belém em miniatura, medalhas com gravações de todo o tipo de votos e oferendas, pequenos anjos, peixeiras de Lisboa, diminutas réplicas da Torre dos Clérigos ou da torre da Universidade de Coimbra. Havia a malha batida de modo especial por cada artesão, a malha torcida, a malha «corrente», etc., etc., etc.

Tudo isso tem sido derretido como «peças que você já não usa», porque o ouro em barra é que vale como moeda de troca.

Agora que o mercado aurífico está em queda, algumas das lojas de «ouro a peso» estão a fechar à mesma velocidade com que abriram portas. Por isso, talvez seja altura de deixar aqui uma pequena filigrana de papel da década de 1930. Se quer defender a nossa ourivesaria tradicional, os nossos artífices, as nossas peças, não veja o ouro como batata a peso. Para «valores» meramente monetários, existem numismatas, onde pode comprar libras de ouro à cotação do dia.

Ouro português é na ourivesaria. E a rua dos ourives do ouro é, assim determinou o Marquês de Pombal, a Rua Áurea. Vale a pena uma visita.


MARINA TAVARES DIAS
LISBOA DESAPARECIDA

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Figuras do FADO

CESÁRIA

MARINA TAVARES DIAS
in LISBOA DESAPARECIDA
volume IV

[....] A Cesária, ou "a mulher de Alcântara", conheceu renome apenas comparável ao da Severa. Ceceiava na pronúncia e não vestia de modo ousado, como a sua congénere. Mas a sua voz era capaz de atear insuspeitas convulsões de paixão. Além do mais, Tinop dixit, tinha "muita livraria": sabia de cór todas as resmas de versos que os cegos apregoavam pela cidade. Ao longo das décadas, muitos fados prestaram homenagem à Cesária. O primeiro, composto por Ambrósio Fernandes da Maia em 1870, chama-se "Fado da Cesária" ou "Fado de Alcântara". Os fadistas míticos acumulam sempre, após a morte, uma espécie de reportório paralelo, inteiramente constituído por fados in memoriam.[......]
(continua)

Na ilustração: A Cesária retratada por Roque Gameiro. 
Imagem adaptada para a capa de um tardio folheto de cordel.

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

OS TEMAS DA LISBOA DESAPARECIDA | LOST LISBON, THE BOOKS AND THEIR STORIES

LISBOA DESAPARECIDA

de MARINA TAVARES DIAS

Aqui estão alguns dos temas abordados em capítulos especiais, ao longo de nove volumes da LISBOA DESAPARECIDA de MARINA TAVARES DIAS. Apenas algumas das longas conversas estabelecidas com o leitor sobre a História profunda de uma cidade inigualável: das primeiras motocicletas aos últimos grandes cinemas; dos costumes de 1800 às modas de 1900; dos primeirios liceus aos grandes mercados; dos jornais célebres às lojas que mudaram hábitos; do Bairro Alto à beira-Tejo; do Parque Mayer à Feira Popular; dos cafés destruídos à construção dos novos bairros; do teatro ao fado, etc., etc. etc. É um nunca mais acabar de aventuras e percursos.

Não sabe onde encontrar todos ou qualquer dos volumes? Não sabe como adquirir aquele volume que ainda lhe falta?
- É simples.

A loja A VIDA PORTUGUESA de CATARINA PORTAS tem todos os números, incluindo os que já esgotaram nas outras livrarias. Recomendamos que os procure na secção de livraria, sem os manusear muito, pois são MESMO os últimos. 

Mais uma razão para visitar as lojas A VIDA PORTUGUESA na RUA DA ANCHIETA e no LARGO DO INTENDENTE, em Lisboa, evitando as grandes superfícies e beneficiando, em tempo de crise, o comércio local - defensor daquilo que é nosso.

Este Natal, viaje pela história da sua cidade. Ofereça a sua cidade a quem mais ama ou a quem mais A ama.














sábado, 30 de novembro de 2013

O MARRARE DO POLIMENTO

« [.../...] A fina-flor da geração chiadense frequentava os bailes das Laranjeiras e as noites de estreia em todos os teatros. Aplaudia e pateava as divas de S. Carlos. Reunia-se com os políticos às mesas do café, escutando José Estevão conspirar contra os Cabrais e Passos Manuel em plena propaganda maçónica. Era a época em que uma primeira incursão no Marrare exigia apresentação feita por qualquer veterano da casa. Aos desconhecidos que ousavam o sacrilégio eram lançados olhares de alto a baixo, os criados não os serviam de pronto e alguns jovens “dandies” mais irreverentes chegavam a convidá-los a sair. Por isso, muitos pais de família aconselhavam os filhos a não passar ali à porta, e era comum ver burgueses atravessando para o passeio em frente, quando havia aglomerações à entrada do café. »


Capítulo sobre os cafés de António Marrare,
em OS CAFÉS DE LISBOA 
de MARINA TAVARES DIAS