Das chatas e labregas que desciam a ria de Aveiro até aos mais miseráveis bairros da Lisboa de Oitocentos, as varinas cumpriram todos os rituais da estampa etnográfica. Inspiraram poetas, pintores e alfacinhas em geral, atentos aos gritos quotidianos que anunciavam a chegada do peixe: "Viva da costa!"; "Pescada do alto!"; "Olha a bela pescada marmota!". Um dia, desapareceram. Caiou-se de novo a lúgubre Madragoa e fizeram-se restaurantes finos nas antigas tascas do vinho morangueiro, sentaram-se etnógrafos a narrar origens e extinção das «gregas do ocidente», conformaram-se os outros bairros com peixe congelado dos supermercados. Foi assim aos poucos, antes que se desse por isso. Mas foi o fim de uma era. Publicado no «Diário de Lisboa» em 1989.
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