Alguns dos pregões (anúncios ambulantes) mais repetidos ao longo de todo o século XIX são impossíveis de reproduzir graficamente. O do ferro-velho, por exemplo, que se resumia a um rangido áspero, estridente, interminável. O uivo do galego aguadeiro, servindo de mote para assustar meninos mal-portdos. Ou o silvado da gaita do amola-tesouras-e-navalhas, hoje sobrevivente quase isolado no cancioneiro das ruas. Agora quase sempre de biccicleta (embora ainda os haja de «aparelho» completo; rodas e lima, circulando no pino da afinação.
Com a crise, multiplicaram-se. Para os estrangeiros, sobretudo para os franceses dedicados à cartofilia, é difícil explicar que um «petit métier» dos mais antigos e cotados em termos de postais antigos ainda existe em Lisboa, ao virar da esquina, para quem queira fazer postais «animés», «non-posés» e... editados em 2014.
MARINA TAVARES DIAS
«Vendedores e Pregões»,
um dos capítulos da
LISBOA DESAPARECIDA