em LISBOA DESAPARECIDA,
volume VII, capítulo sobre
RETRATISTAS DO SÉCULO XIX
«A história dos estúdios fotográficos lisboetas está por fazer. Apesar de lhes devermos as imagens que, durante século e meio, adornaram paredes e atenuaram distâncias, ninguém se lembrou de registar a maior parte desses nomes e dessas moradas. Actualmente, após o desaparecimento de todos os ateliers de retrato que marcaram uma era na cidade, torna-se difícil recuperar a obra e a memória de quem fixou para o futuro o rosto e a pose dos lisboetas de antanho. Resta uma parcela ínfima de cada obra, hoje dispersa por arquivos, alfarrabistas, museus e álbuns de família.
As casas fecharam, os prédios foram remodelados ou demolidos, os espólios foram desbaratados. Fotografias identificadas pelo cartão em que foram montadas transmitem-nos, a esta distância temporal, no olhar vago dos retratados, costumes e enredos por adivinhar. As cartes de visite e os cabinets oitocentistas, tão fáceis de encontrar, por baixo preço, em caixotes de alfarrabistas, são um marco da história da fotografia e um monumento ao hábito ocidental de cultivar a imagem.
Ainda que arremetidos, pelo passar do tempo, para o anonimato, todos esses fantasmas têm uma história para contar. Ou melhor, duas: a do fotografado e a do próprio fotógrafo. Fotógrafo cujo legado ao futuro não foi aparentemente além de um amontoado de rostos e de posturas, um dia iluminados pela paradoxal subjectividade da sua objectiva. [...]»
(continua no livro)
RETRATISTAS DO SÉCULO XIX
«A história dos estúdios fotográficos lisboetas está por fazer. Apesar de lhes devermos as imagens que, durante século e meio, adornaram paredes e atenuaram distâncias, ninguém se lembrou de registar a maior parte desses nomes e dessas moradas. Actualmente, após o desaparecimento de todos os ateliers de retrato que marcaram uma era na cidade, torna-se difícil recuperar a obra e a memória de quem fixou para o futuro o rosto e a pose dos lisboetas de antanho. Resta uma parcela ínfima de cada obra, hoje dispersa por arquivos, alfarrabistas, museus e álbuns de família.
As casas fecharam, os prédios foram remodelados ou demolidos, os espólios foram desbaratados. Fotografias identificadas pelo cartão em que foram montadas transmitem-nos, a esta distância temporal, no olhar vago dos retratados, costumes e enredos por adivinhar. As cartes de visite e os cabinets oitocentistas, tão fáceis de encontrar, por baixo preço, em caixotes de alfarrabistas, são um marco da história da fotografia e um monumento ao hábito ocidental de cultivar a imagem.
Ainda que arremetidos, pelo passar do tempo, para o anonimato, todos esses fantasmas têm uma história para contar. Ou melhor, duas: a do fotografado e a do próprio fotógrafo. Fotógrafo cujo legado ao futuro não foi aparentemente além de um amontoado de rostos e de posturas, um dia iluminados pela paradoxal subjectividade da sua objectiva. [...]»
(continua no livro)
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