in LISBOA MISTERIOSA de MARINA TAVARES DIAS
«Eis uma tradição que permanece ilesa na fraseologia lisboeta. De tal modo arraigada que certo motorista de táxi me perguntava, recentemente, ao indicar-lhe como destino a Igreja de Santa Engrácia, se a dita não era, de facto, «aquela das obras»? Sem dúvida que é, afiancei, ouvindo logo de seguida: «E onde é que ficam essas obras? – É que Lisboa, agora, está cheia de buracos por todo o lado!» Estará; e Santa Engrácia não é já responsável por qualquer dos ditos. O templo esteve inacabado durante séculos, mas a febre de restauros que emergiu da consolidação da ditadura do Estado Novo pôs cobro à maldição… pregando-lhe com uma cúpula de betão revestido. Já lá vão quase quatro décadas, o que em termos de historiografia da cidade será o mesmo que nada, e já ninguém parece lembrar-se de que a silhueta de Lisboa esteve, até 1966, desprovida deste tão evidente adorno. E é um fartote de rir ver filmes supostamente passados antes disso a esquecerem, de facto, que a panorâmica tomada do Tejo sobre as velhas colinas é, agora, totalmente diversa. Porque acabaram, até ver de vez, as obras de Santa Engrácia.[.../...]» (continua)
Fotografias actuais: ARQUIVO MARINA TAVARES DIAS
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