sábado, 28 de dezembro de 2013

AS CHAMINÉS DO ELEVADOR DE SANTA JUSTA



O ASCENSOR DO CARMO AINDA COM CHAMINÉS.
HdEdC - MARINA TAVARES DIAS

[38* O Ascensor do Carmo (ou de Santa Justa), inaugurado a 10 de Junho de 1902, pertencia à empresa homónima, que se transformou em sociedade anónima em Fevereiro de 1903. Em contrato de 20 de Novembro de 1905 foi arrendado à Lisbon Electric Tramways Limited, que o electrificaria em 1907. Dissolvida a Empresa do Elevador do Carmo em 1938, passou o ascensor para a posse da Lisbon Electric, que cedeu a sua exploração à Carris em Agosto de 1943. Foi trespassado definitivamente a esta última em 1973.]

(nota de rodapé de página do livro 
HISTÓRIA DO ELÉCTRICO DA CARRIS
edição oficial, 
de 
MARINA TAVARES DIAS)

sábado, 14 de dezembro de 2013

LISBOA DESAPARECIDA
de
MARINA TAVARES DIAS

AS AVENIDAS NOVAS

Traçadas no final do século XIX, de acordo com o plano urbanístico de Ressano Garcia, as avenidas que partem da Rotunda (ou Praça Marquês de Pombal) determinaram a expansão de Lisboa num eixo que aponta para norte. Foram baptizadas "Avenidas Novas" pelo povo de Lisboa. Foram também ricamente decoradas com alguns dos exemplos mais conhecidos da arquitectura portuguesa dos primeiros anos do século XX, incluindo a maior parte dos edifícios que receberam, então, o célebre Prémio Valmor.

Por cobiças alheias à harmonia das avenidas, esses edifícios foram quase todos substituídos, ao longo das últimas seis décadas, por construções incaracterísticas.

Na fotografia, o 'atelier' do pintor Malhoa, hoje exemplarmente preservado como Casa-Museu Anastácio Gonçalves. Raro sobrevivente intacto, que em breve será «emparedado» por um quarteirão inteiro de inenarráveis volumetrias.


terça-feira, 10 de dezembro de 2013

OS TEMAS DA LISBOA DESAPARECIDA | LOST LISBON, THE BOOKS AND THEIR STORIES

LISBOA DESAPARECIDA

de MARINA TAVARES DIAS

Aqui estão alguns dos temas abordados em capítulos especiais, ao longo de nove volumes da LISBOA DESAPARECIDA de MARINA TAVARES DIAS. Apenas algumas das longas conversas estabelecidas com o leitor sobre a História profunda de uma cidade inigualável: das primeiras motocicletas aos últimos grandes cinemas; dos costumes de 1800 às modas de 1900; dos primeirios liceus aos grandes mercados; dos jornais célebres às lojas que mudaram hábitos; do Bairro Alto à beira-Tejo; do Parque Mayer à Feira Popular; dos cafés destruídos à construção dos novos bairros; do teatro ao fado, etc., etc. etc. É um nunca mais acabar de aventuras e percursos.

Não sabe onde encontrar todos ou qualquer dos volumes? Não sabe como adquirir aquele volume que ainda lhe falta?
- É simples.

A loja A VIDA PORTUGUESA de CATARINA PORTAS tem todos os números, incluindo os que já esgotaram nas outras livrarias. Recomendamos que os procure na secção de livraria, sem os manusear muito, pois são MESMO os últimos. 

Mais uma razão para visitar as lojas A VIDA PORTUGUESA na RUA DA ANCHIETA e no LARGO DO INTENDENTE, em Lisboa, evitando as grandes superfícies e beneficiando, em tempo de crise, o comércio local - defensor daquilo que é nosso.

Este Natal, viaje pela história da sua cidade. Ofereça a sua cidade a quem mais ama ou a quem mais A ama.














domingo, 8 de dezembro de 2013

FADO – THE SONGS ABOUT FATE



Pois é: ficámos surpreendidos ao verificar que quase metade dos nossos leitores moram nos Estados Unidos ou usam servidores ali alojados, Como esse dia coincide com aquele em que um deles muito gentilmente pede um «gravura antiga ligada ao Fado» (todas as gravuras antigas estão ligadas ao fado de alguém, diria aqui Pessoa... talvez).
Bem, aqui está a dupla desenhada por Joubert em 1825 e publicada em gravura nesse mesmo ano. Agora, 

excuse us...


FADO – THE SONGS ABOUT FATE
«The fado was born one day/ When hardly a breeze was whispering/ And the sea merged into the sky/ In the tacking of a sailing ship/ In the breast of a sailor-boy/ Who was singing in his melancholy» – so goes the poem written by José Régio and sung by Amália Rodrigues. The real origins of Lisbon’s traditional song are probably much more recent than the era of the Discoveries. There is no written record of the fado before the 19th century. Its melody, which is thought to be the successor of the «lundum» danced by black slaves in Brazil, follows a four-line stanza where each line has a 10-syllable count. But aboveall, it reflects a state of spirit, sad and nostalgic, that Lisbon has made its own. During the 19th century, the fado (the song about fate) was sung all over Lisbon, from Calçada de Carriche to the flat-bottomed boats of the River Tagus, through the taverns of Bairro Alto and the narrow streets of Mouraria. The poignant plucking of guitars was heard in Arco do Cego and in Madre de Deus, in Lumiar and in Laranjeiras, in the Quebra-Bilhas tavern and in the bullring at Campo de Santana. The fado was sung markets, in brothels and in palaces.»

LISBOA/LISBON/LISBONNE/LISSABON - A sua história para os turistas / for the tourist who loves History, book by MARINA TAVARES DIAS, 1992.

lithograph by Joubert, 1825

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

DO PASSSEIO PÚBLICO À AVENIDA DA LIBERDADE

Logo a seguir ao terramoto de 1755, o Marquês de Pombal pensa dotar a cidade de um grande jardim público, onde os lisboetas possam conviver entre si. O novo "passeio" é construído a norte do Rossio, em terrenos conquistados aos arredores. Em breve se torna o mais frequentado lugar da capital, atingindo o grande objectivo do Marquês: amalgamar as classes sociais, fazendo despontar novos hábitos. No início do século XIX, o Passeio é restaurado e favorecido com novo gradeamento e novos portões. O Romantismo é a sua grande época. Entra na moda das elites, conhecendo mesmo todos os membros da família real, que por aqui se passeiam, entre novos burgueses e pobres de pedir, sem medo das multidões. 




Entre 1879 e 1886, a Câmara de Lisboa projecta e leva a cabo a demolição do Passeio, para construção Avenida da Liberdade. Ficou sendo a primeira avenida lisboeta, bem ao estilo do "boulevard" francês, ladeada de construções que marcaram época e das quais pouco resta. No topo da Avenida, na Rotunda (baptizada como Praça Marquês de Pombal), ergue-se o monumento ao reconstrutor de Lisboa, inaugurado em 1934.


FOTOGRAFIAS DA ÉPOCA. 
 LISBOA DESAPARECIDA, volume I
Em baixo: pormenores de estereoscopias
de Emílio Biel (Arquivo MARINA TAVARES DIAS)



terça-feira, 3 de dezembro de 2013

A SUÉCIA NA NOSSA FEIRA POPULAR

Pavilhão da Suécia na Feira Popular de Lisboa [...]
A Feira Popular abria caminho a mercados até então desconhecidos dos portugueses. Muitas das especialidades gastronómicas aqui vendidas ou servidas só regressariam 50 anos depois, com os minimercados instalados nas lojas de móveis Ikea.

MARINA TAVARES DIAS 
em 
LISBOA DESAPARECIDA


(ilustração do volume IX; 
capítulo A Feira Popular de Lisboa;
fotografia de Eduardo Portugal, 1946)

domingo, 1 de dezembro de 2013

D. PEDRO V e a homenagem do Campo Grande

[…/…] (o) Asilo D. Pedro V, situado no topo nordeste, com o actual número 380. Foi concluído e inaugurado em 1857, erguido por subscrição pública para celebrar a aclamação do jovem rei e desde logo destinado a socorrer e instruir a infância desvalida de Lisboa, iniciativa que contou com o caloroso apoio do monarca. As obras, iniciadas a 10 de Maio de 1856 segundo o traço de Aquiles Rambois e José Cinatti, duraram pouco mais de um ano, tendo a inauguração, feita pelo próprio D. Pedro V, decorrido no dia 18 de Outubro de 1857. Albergava inicialmente 20 crianças, número em breve multiplicado, pois três anos volvidos era já de 81 raparigas e 39 rapazes. […/…]

[…/…] A escritura de venda, datada de 27 de Dezembro de 1990, refere um valor de 1,728 milhões de contos. Seria posteriormente revendido e, em 1999, demolido na íntegra. (…) Ao centro do [novo] conjunto, nova construção que reproduz as características exteriores do velho imóvel (…).

MARINA TAVARES DIAS
em
LISBOA DESAPARECIDA

(capítulo O Campo Grande; texto completo no volume VIII)




sábado, 30 de novembro de 2013

O MARRARE DO POLIMENTO

« [.../...] A fina-flor da geração chiadense frequentava os bailes das Laranjeiras e as noites de estreia em todos os teatros. Aplaudia e pateava as divas de S. Carlos. Reunia-se com os políticos às mesas do café, escutando José Estevão conspirar contra os Cabrais e Passos Manuel em plena propaganda maçónica. Era a época em que uma primeira incursão no Marrare exigia apresentação feita por qualquer veterano da casa. Aos desconhecidos que ousavam o sacrilégio eram lançados olhares de alto a baixo, os criados não os serviam de pronto e alguns jovens “dandies” mais irreverentes chegavam a convidá-los a sair. Por isso, muitos pais de família aconselhavam os filhos a não passar ali à porta, e era comum ver burgueses atravessando para o passeio em frente, quando havia aglomerações à entrada do café. »


Capítulo sobre os cafés de António Marrare,
em OS CAFÉS DE LISBOA 
de MARINA TAVARES DIAS




quinta-feira, 28 de novembro de 2013

A. CAEIRO

Há dias passava eu de carro na Avenida Almirante Reis. Levantando os olhos por acaso, leio no cabeçalho de uma loja: Farmácia A. Caeiro.

Carta de FERNANDO PESSOA
a Armando Côrtes-Rodrigues, 
datada de 4 de Outubro de 1914 e
explicando a génese e os apelidos 
dos seus heterónimos.

Ilustração e citação retiradas de:
A LISBOA DE FERNANDO PESSOA
de 
MARINA TAVARES DIAS


(postal ilustrado em fototipia, edição de Faustino Martins)

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

LISBOA NOS ANOS 40 - LONGE DA GUERRA
de 
MARINA TAVARES DIAS

Francisco Ribeiro, conhecido pelo nome artístico Ribeirinho, fundou a companhia Os Comediantes de Lisboa em 1944, conseguindo levar a cena muitas obras que a censura trazia de olho. Mas as gerações futuras lembrá-lo-ão sobretudo como realizador (O Pátio das Cantigas, 1942) e actor de cinema (O Feitiço do Império,1940; O Pai Tirano, 1941; O Pátio das Cantigas, 1942; A Vizinha do Lado, 1945, etc.) 

     


          (Ribeirinho como o «Chico da Tatão» em O Pai Tirano
1941;
fotografia cedida pelo cineasta António Lopes Ribeiro para o livro)

domingo, 24 de novembro de 2013

O «CHORA»

«A pequena firma de Eduardo Jorge possui lugar aparte na história do trânsito alfacinha. Foi ela a única que, batalhando em tribunal e nas ruas, conseguiu manter décadas a fio, sobre os carris, os seus carritos desengonçados. Mesmo depois de ter aparecido o poderoso e rápido eléctrico. As quezílias com a Carris eram tão frequentes que os jornais começaram a achá-las assunto corriqueiro.

E o povo de Lisboa, sempre desconfiado do poder instituído, corria em massa para o «chora», apoiando a teimosia do proprietário. Eduardo Jorge viu-se aflito com a chegada dos eléctricos, que dificilmente travavam a tempo de não abalroar as suas carruagens, mas rapidamente calculou a solução: passou a espetar-lhes uma espécie de lança, evitando assim a colisão.

Continuou alegremente sobre os trilhos da Carris. Neles se manteve até à Grande Guerra (mais exactamente até 1917), quando a aquisição das mulas por parte do Exército lhe prejudicou irreversivelmente o negócio.»

MARINA TAVARES DIAS 
em HISTÓRIA DO ELÉCTRICO DE LISBOA


sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Badalejando

«Dantes, dizia-se badalejar. As casas grandes tinham à porta a maçaneta de latão, devidamente centrada numa estética cercadura. A ela estava ligado, no interior, um pequeno sino dourado.
Para os dedos não deslizarem, em caso de nervosismo ou mesmo de chuva, cada puxador era lavrado em espiral, às vezes com alguma imaginação. Camilo badalejava quando ia visitar alguém; Eça badalejava. Não conheciam o irritante som já semi-electrónico das casas da segunda metade do século XX: 'tim-tom!' Anthero badalejou à porta de muitos amigos pelo reconforto de uma frase, Gomes Leal pelo de uma sopa.

Já ninguém badaleja. Perdeu-se o verbo. Os restos destes badalos foram-se adaptando às fachadas, incorporando-se nelas, cimentados nelas ou adaptados a campaínha, já sem o característico puxador.Páro na rua sempre que vejo a maçaneta do badalo intacto, e pouso logo o olhar no degrau de entrada. Muitos passos, poucos passos? - Depende disso o desgaste. Dependiam disso as promessas do trinco da porta.»

MARINA TAVARES DIAS em LISBOA DESAPARECIDA



quarta-feira, 20 de novembro de 2013

NÃO SE ESQUEÇAM NA VOLTA... de que ainda estão vivos

O Manuel dos Passarinhos ficava em Arroios, e era um dos chamados «retiros» (misto de tasca, adega e pequeno restaurante) ao serviço dos que saíam de Lisboa, pela Rua de Arroios e contígua Estrada de Sacavém.

Mas não era por isso que dizia «Não se esqueçam na volta». Era porque ficava mesmo em frente daquilo que viria a ser a futura Rua Morais Soares, a caminho do Cemitério Oriental (Alto de S. João).

Na volta dos enterros, esperava o Manuel dos Passarinhos que muita gente viesse com fome. Sobretudo, com vontade de beber para esquecer.

Ilustração e informação retiradas de:
LISBOA DESAPARECIDA 
de MARINA TAVARES DIAS, 
volume I.


segunda-feira, 18 de novembro de 2013

ARTE-NOVA destruída na Avenida Almirante Reis



Foi aqui, no alfarrabista do número 17 da Avenida Almirante
Reis, que a escritora MARINA TAVARES DIAS encontrou, pela
primeira de muitas vezes, o escritor LUIZ PACHECO. O senhor
que se pode ver na foto é RUI FERREIRA, cuja morte determinou
o encerramento da loja.

Era a elegante loja de Espartilhos de MADAME GARCIA, fundada
em 1910 e mais tarde convertida em livraria pelo sobrinho da
fundadora, que manteve tudo intacto, tendo ido ao pormenor da
pintuira do vidro da fachada (ouro sobre fundo azul) com a
designação Madame Garcia & Herdeiros. Marina Tavares Dias
louvou esta, então já rara, loja intacta num texto da sua secção
PATRIMÓNIO, publicada aos Sábados no vespertino DIÁRIO
POPULAR (1986-1987-1888).

Hoje, e apesar de ter estado classificado como imóvel de interesse
público e de constar do inventário fotografado para a SIPA, este
maravilhoso interior ARTE-NOVA desapareceu. Foi partido à
martelada já muito depois do ano 2000, para se transformar num
'lugar' de hortaliça, fruta e especiarias, amontoadas num corredor.
Como se nunca ali tivesse estado uma das mais belas lojas de
Lisboa.



sexta-feira, 8 de novembro de 2013

BONECOS DA BOLA: a célebre lata das mercearias


HISTÓRIA DO FUTEBOL EM LISBOA

 de MARINA TAVARES DIAS

Raríssimo exemplo sobrevivente de uma lata de mercearia

onde eram guardados os famosos «caramelos da bola»

cujos «bonecos», enrolados na embalagem, fizeram as

delícias de gerações de coleccionadores. Esta lata esteve

exposta, por ocasião do Euro 2004, na exposição 

«Aqui Nasceu o Futebol». 



quarta-feira, 6 de novembro de 2013

OS ÓRFÃOS DOS CAFÉS: Marina Tavares Dias por Eduardo Prado Coelho

Um texto magnífico de 

EDUARDO PRADO COELHO

 sobre os livros de

 MARINA TAVARES DIAS. 

Disponível neste blog:





OS ÓRFÃOS DOS CAFÉS



Tal como Borges escreveu um dia, eu poderia de igual modo dizer: «Nasci noutra cidade que também se chamava Lisboa».

Borges diz que recorda o que viu e também o que os pais lhe contaram. Mas ele sabe que as nossas verdadeiras cidades são sempre as cidades da nossa infância. Por isso acrescenta: «sei que os únicos paraísos não proibidos ao homem são os paraísos perdidos. / Alguém, quase idêntico a mim, alguém que não terá lido esta página / lamentará as torres de cimento e o podado obelisco». A cidade de hoje será a infância de amanhã.

Por tudo isto gosto imenso dos livros de MARINA TAVARES DIAS. Com uma obstinação exemplar, ela tem vindo a reerguer a «Lisboa Desaparecida», isto é, a Lisboa da minha infância e sobretudo a Lisboa dos meus tempos de estudante, mas também a Lisboa dos meus pais e dos meus avós (com o tempo tudo se mistura, e regressamos todos à mesma pátria intemporal, à Lisboa fora do tempo, onde brincámos e aprendemos a amar). Associando a isto duas outras obsessões, mas a verdade é que as duas coisas não estão separadas: Sá-Carneiro e Pessoa, ligados aos cafés que eles frequentaram e aos lugares onde passearam e escreveram.

Num desses livros envolvidos numa aura de bruma, Marina Tavares Dias restitui-nos agora «Os Cafés de Lisboa» (Quimera). Noutro dia Jorge Listopad escrevia que à saída do Teatro São João do Porto me tinha visto, no último café iluminado na noite da cidade, a escrever certamente a crónica para o dia seguinte. Não era por acaso. As crónicas escrevo-as sempre em computador. O resto (que se poderia dizer «o essencial», mas talvez isto nem sempre bata certo), escrevo-o à mão, em cadernos verdes ou azuis, nos cafés ensonados e friorentos que ainda existem pelo mundo fora.

A verdade é que adoro cafés. E que tive em cafés alguns dos mais belos momentos de leitura, encontro, discussão, contemplação, escrita, estudo, violência de olhares, ternura das mãos, de que me posso lembrar. Nesses cafés que a Marina recorda no seu livro: o Monte Carlo, o Monumental, a Brasileira, o Palladium, ou, depois, a Grã-Fina, o Nova-Iorque, o Vává. E entre os motivos que tenho para gostar do Porto estão os cafés que ainda lá existem: cafés rodeados de noite e fumo, com velhos de unhas negras, prostitutas tristes, e adolescentes sufocando a tristeza num bolo de arroz e num leite quente.

Eduardo Prado Coelho, in Crónicas no Fio do Horizonte, Asa, 2004

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

OS ANJOS E OS ARROIOS

Esta área de Lisboa pertencia, desde meados do século XII, à vasta freguesia de Santas Justa e Rufina. No Séc. XVI, no breve reinado do Cardeal D. Henrique, a freguesia, então já conhecida apenas pela designação de Santa Justa, foi dividida em cinco: Socorro, São José, Anjos, Pena e São Sebastião da Pedreira. De fora, temporariamente, a zona arrabaldina a nordeste, com corredoura na direcção única de Sacavém, e cujos arroios, pântanos e levadas confluíam para o antigo Regueirão dos Anjos. Ou seja, Arroios. Que no tempo de Eça ainda era recato dos namoros burgueses, a léguas do centro da cidade, cuja saída se fazia pelo Largo do Intendente.

Existente como tal desde 1564, a FREGUESIA DOS ANJOS desapareceu ontem do mapa autárquico. Mas não reapareceu a primeiríssima designação de Santa Justa; nem mesmo na Baixa. Quanto aos Anjos, foram «agregados» aos tais arroios que corriam para o regueirão. Ou seja: a História de Lisboa lida de pernas para o ar. Daqui a um século, os olisipógrafos vão ter de aprender coisas muito complicadas. 

Visitemos, pois, Arroios (!). O Bairro dos Anjos. Um dos mais belos, históricos e esquecidos da cidade. 
Todas as imagens © Arquivo Marina Tavares Dias, 2013.













Foi onde tirámos estas fotografias.

Todas as imagens © Arquivo Marina Tavares Dias, 2013.


terça-feira, 17 de setembro de 2013

O CARRO DO SALAZAR

O «famigerado Carro do Salazar», que «furava» todas as greves da Carris, em 1912, no apogeu revindicativo dos guarda-freios. Era detestado pelos lisboetas, pois tratando-se de charabã, não possuía comodidade alguma. 

No filme O Pátio das Cantigas (1942), Francisco Ribeiro (Ribeirinho) termina uma sequência de pancadaria na noite de Santo António com Vasco Santana a abrigar as crianças do pátio neste carro, entretanto esquecido numa cocheira velha, para sucata. Historiadores do Estado Novo têm sempre visto, nessa cena, um elogia ao regime. No entanto, e como o próprio António Lopes Ribeiro disse em entrevista a MARINA TAVARES DIAS, tratava-se de um trocadilho para enganar a censura. Onde os ignorantes viam apenas o letreiro com a palavra «Salazar», os outros veriam o charabã e lembrar-se-iam dele...

Em: HISTÓRIA DO ELÉCTRICO DA CARRIS
edição oficial do centenário, escrita por 
MARINA TAVARES DIAS

A SEGUNDA DESTRUIÇÃO DA PRAÇA DA FIGUEIRA NO ANO 2000

Ao longo de todo o ano 2000 o subsolo da Praça da Figueira, riquíssimo em património arqueológico, foi destruído para construção de um parque de estacionamento.
Desapareceram vestígios do Hospital Real de Todos os Santos (anterior a 1755), de edificações do período árabe e do período romano, assim como testemunhos de que, há milénios, o rio subia até esta zona.

No meio do entulho, a autora recolheu algum «lixo»: conchas fossilizadas, fragmentos de pratos romanos e bocados dos tijolos do Hospital. (fotografia de Marina Tavares Dias, 2002)



Fachadas com histórias de faiança pintada

Caro leitor: visite a freguesia dos Anjos e veja este e muitos outros tesouros esquecidos, escondidos ou maltratados.

Recuperação já deste século: os azulejos arte-nova da fachada do número 29 da Avenida Almirante Reis, um dos 5 prédios de gaveto que delimitam a zona onde a avenida cortou a Rua dos Anjos no início do século XX, obrigando ao reordenamento urbanístico (único) da zona.

Foto: ARQUIVO MARINA TAVARES DIAS, 2013.


MARINA TAVARES DIAS e o DIÁRIO DE LISBOA


Algumas (apenas algumas) de muitas prosas © Marina Tavares Dias no extinto vespertino «Diário de Lisboa». Reprodução e redistribuição proibidas, ao abrigo da lei que protege a propriedade intelectual.

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