"[.../...] Neste momento, a casa onde morreu Júlio de Castilho, o pioneiro da olisipografia, está a cair, esquecida e emparedada, com placa de homenagem e um letreiro a dizer «Património Municipal». Este é, senhoras e senhores, o destino do olisipógrafo depois de morto. Enquanto vivo, a sua missão é a História em forma de ferroada. É pouco. Mas se pouco é, para mais não chega cada curta vida. Especialmente num país onde as cidades nunca tiveram os historiadores que merecem, tendo de contentar-se com aqueles que as amam sem sentido da mesura. Aqueles cuja vocação mostra, no mundo do lucro fácil, todos os indícios daquilo que saiu de moda há muitos e muitos anos: raízes, memória, estudo, contemplação, paredes barrocamente repletas de papéis e, sobretudo, andar pelas ruas sem automóvel. Castilho, por exemplo, teve de vender a sua biblioteca pessoal para poder alimentar a casa. Disso mesmo se queixa em carta a Thomaz de Mello Breyner. Carta essa que comprei há décadas, e que mandei emoldurar. Para que a vida de olisipógrafa nunca me surpreendesse até ao desespero."
MARINA TAVARES DIAS
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