domingo, 16 de abril de 2017

ANTÓNIO SILVA


Com Hermínia Silva, a fadista castiça, em
O Costa do Castelo
(Arthur Duarte, 1942)
Fotografia da época: Arquivo MTD



Em 1933, António Silva recebeu de Cottinelli Telmo o primeiro grande papel cinematográfico, como alfaiate Caetano em “A Canção de Lisboa”. E fundou um estilo. O actor costumava contar que, ao ser-lhe entregue o guião, resolvera logo trocar as rábulas no original, rescrever inúmeras sequências e acrescentar piadas aos diálogos. Longe de se indignar, Cottinelli Telmo, evidenciando modéstia notável, tinha-o deixado à vontade: ele que acrescentasse tudo o que fizesse brilhar a personagem e o seu talento de actor. No final das filmagens, além do pagamento estipulado, entregou-lhe um cheque suplementar pelo apoio à produção.

António Maria da Silva tinha começado muito antes do sucesso de “A Canção de Lisboa”. Fora em 1910, no palco do Teatro da Rua dos Condes, aos 24 anos de idade, representando “O Novo Cristo” de Tolstoi. Antes dessa estreia auspiciosa, e tal como muitas das suas futuras personagens, fora caixeiro de drogarias e de retroseiros. Participou em dois filmes brasileiros: “Convém Martelar” e “Coração de Gaúcho”, ambos de 1920, conseguindo pequeno currículo como actor de cinema. Já conhecido como actor de teatro, conseguiria enorme notoriedade cinematográfica, ao longo da década de 30, com os seus desempenhos em “As Pupilas do Senhor Reitor”, “Bocage” e “Maria Papoila”.



É a década de 40 que consagra António Silva como actor de cinema, transformando-o na imagem do pequeno mago do círculo familiar, forjador de estratégias de desenrascanço, salvador da honra do convento, caricatura da mania das grandezas do lisboeta pobre, mentiroso e de grande coração. As suas criações justificam dois dos títulos de maior sucesso nos écrans lisboetas: “O Costa do Castelo” (1943) e “O Leão da Estrela” (1947), ambos realizados por Arthur Duarte.


Participou em mais de 30 filmes, quase sempre comédias onde as suas rábulas eram infalíveis. Uma das suas mais felizes incursões pelos clássicos seria justamente no “Amor de Perdição”, de António Lopes Ribeiro (1943), onde compõe um inesquecível João da Cruz. Quando fez a sua última aparição cinematográfica (“Sarilhos de Fraldas” de Constantino Esteves, 1966), já o público tinha mudado e as piadas requentadas, tentando explorar um filão exausto, ficavam a milhas das antigas comédias dos anos 40. Mesmo assim, ele seria ainda o rei em cena, senhor de outras graças e de outras comédias.
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Em
LISBOA NOS ANOS 40de
MARINA  TAVARES  DIAS


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