sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

... E se a saia escondesse um homem de cócoras?


Excerto do capítulo sobre 
A MODA EM LISBOA
por 
MARINA TAVARES DIAS
em
LISBOA DESAPARECIDA


«[..../....] Símbolo por excelência do Romantismo, a saia de merinaque, com os seus arcos de barbas de baleia e a sua estrutura de gaiola, ficará para sempre ligada à época de ouro do Passeio Público. 

Madame Seissal foi a primeira lisboeta a ostentar crinolina, sendo vaiada e coberta de ridículo em pleno Passeio, recolhendo precipitadamente a casa. Mas por volta de 1860 já se usava crinolina mesmo nos veraneios pela praia ou nos piqueniques campestres, e até as figurantes do Teatro de S. Carlos exibiam sempre saias de balão, mesmo quando o libreto da ópera contava uma história passada na Antiguidade clássica. 




Dançava-se de crinolina nos salões, sempre com mil cuidados para que a proximidade do par não permitisse o desequilíbrio da estrutura: um leve encosto pela frente levantava a saia atrás, desvendando tudo o que estivesse ou não por baixo. [... ] 



Quem saísse à tarde para o Passeio Público encontrava um verdadeiro mar de merinaques cobertos de todas as cores, tecidos e enfeites possíveis. A silhueta da mulher voltara às composições aparatosas e à prisão das formas caricaturais. Mesmo assim, os puritanos reclamavam contra o uso de crinolinas: segundo eles, estas podiam muito bem refugiar, sob a abóbada das barbas de baleia, um amante oculto, de cócoras.»



quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

O nascimento do futebol em Portugal

«Regressados de Inglaterra em 1886, após terminarem os estudos num colégio inglês, os irmãos Frederico e Eduardo Pinto Basto trouxeram na bagagem a primeira bola de futebol que entrou em Portugal. 

Por iniciativa do irmão de ambos, Guilherme, começaram a efectuar treinos entre a família e os amigos, tendo o primeiro «ensaio» em público decorrido na Parada de Cascais, em Outubro de 1888, com os seguintes jogadores: João Bregaro, Jorge Figueira, Eduardo Romero, Francisco Alte, Eduardo Pinto Basto, Francisco Figueira, Salvador da França, Manuel Salema, Aires de Ornellas, Guilherme Pinto Basto, Carlos Pinto Basto, Salvador (visconde de) Asseca, António Avillez, Pedro Sabugal, Frederico Pinto Basto, Luís Trigoso, Souza Coutinho, Augusto Moller, Vasco Sabugosa, Francisco Avillez, Hugo O’Neill e o visconde de Castello-Novo. 

Cerca de dois meses depois, realizar-se-ia o primeiro jogo em Lisboa, defrontando pela primeira vez adversário mais ou menos especializado: um «team misto» de ingleses residentes em Portugal (trabalhadores do Cabo Submarino e da Casa Graham). Decorreu no Campo Pequeno a 22 de Janeiro de 1889, tratando-se já de um «desafio de futebol» realmente digno desse nome, visto estarem os jogadores equipados e sujeitos a regras bem definidas (o que não acontecera no encontro de Cascais). 

A equipa portuguesa, que terminaria o jogo vitoriosa, alinhou com a fina-flor da juventude lisboeta: João Saldanha Pinto Basto, João Bregaro, Eduardo Romero, Guilherme Pinto Basto, Eduardo Pinto Basto, Afonso Villar, Augusto Moller, Duarte Pinto Coelho, Frederico Pinto Basto, Simão de Souza Coutinho, Fernando Pinto Basto e Henrique Villar.»

MARINA TAVARES DIAS
O nascimento do futebol em Portugal

Equipamento da 
Associação de Futebol de Lisboa, 
que em 1910 substituiu a Federação 
(aguarela anónima de c. 1920)


quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

O maior café lisboeta de 1930

No livro «OS CAFÉS DE LISBOA»© 
de MARINA TAVARES DIAS.

Um capítulo sobre o Café Chave d'Ouro. Inaugurado em 1916. Encerrado em 1959. Mais uma dependência bancária, menos um café no Rossio. Aqui na fotografia, a azáfama dos lisboetas no dia da célebre reabertura, após remodelação, em 1930. Ocupando todos os andares do edifício, passava a ser o maior café de Lisboa.

ARQUIVO MARINA TAVARES DIAS






terça-feira, 28 de janeiro de 2014

O Aterro que celebra a data do 24 de Julho



« Com o aparecimento do carros americanos - em 1873 - e o desenvolvimento das obras do porto de Lisboa - iniciadas em 1887 -, o Aterro da Boavista (como continuou, por muito tempo, a dizer-se) ganhou vida própria e muita animação. Fontes Pereira de Mello instituiu a celebração do dia 24 de Julho. Vinham representações de todas as tropas da província, saudar as guarnições alfacinhas; havia parada e salvas de morteiros. Era um dia animado, em que Lisboa acordava cedo e saía em peso à rua. Mas todos os dias eram alegres, na Rua 24 de Julho. Alberto Pimentel, recém-chegado do Porto, espanta-se com tanta animação:

"Dá prazer, dá alegria ver passar, ao meio-dia, especialmente ao Domingo, as carruagens americanas ao longo do Aterro. Sobretudo nas carruagens abertas, que no Porto se denominam dos fumistas, há o ar alegre dos franceses que vão divertir-se ao campo, e que já se sentem felizes só com pensar no champagne.
[...]»



MARINA TAVARES DIAS
LISBOA DESAPARECIDA
pequeno excerto do volume III


domingo, 26 de janeiro de 2014

O fotógrafo Fillon, «afilhado» de Victor Hugo, e as suas moradas lisboetas

O fotógrafo francês Alfred Fillon (1825-1881) veio para Portugal com uma carta de recomendação do escritor Victor Hugo. Iniciou a actividade no Porto (na antiga Rua das Hortas), chegando a Lisboa por volta de 1859, ano em que inaugurou o seu primeiro atelier, na Rua das Chagas, número 13. Henrique Nunes tomou este estúdio de trespasse em 1866, porque Fillon queria regressar a Paris. De novo envolvido em escândalos políticos na sua terra, o francês volta definitivamente para Lisboa em 1873, adquirindo então o antigo atelier Plessix, na Rua Nova dos Mártires, número 46. Na revista-jornal Contemporâneo, em 1875, cada edição era ilustrada com uma albumina em tamanho de carte-de-visite e assinada por Fillon. O seu sucessor viria a ser Augusto Bobone, cujos cartões de montagem das albuminas continuariam a ostentar o nome do estúdio do seu mestre.

Ler sobre o atelier Fillon,
fotógrafo da Casa Real, 
no volume VII da 
LISBOA DESAPARECIDA de
MARINA TAVARES DIAS







sábado, 25 de janeiro de 2014

Cafés: acolhedores cenários da nossa criatividade.



Muitos têm sido os escritores que referem o papel importante que escrever e ler nos cafés da capital teve nas suas vidas.

Dessas frases, duas são imortais. Mesmo!


(Recolhidas de OS CAFÉS DE LISBOA de MARINA TAVARES DIAS, 1999)





Um visitante experimentado e fino chega a qualquer parte, entra no café, observa-o, examina-o e tem conhecido o país em que está, o seu governo, as suas leis, os seus costumes, a sua religião. - Almeida Garrett.




E as metafísicas perdidas nos cantos de cafés de toda a parte. - Álvaro de Campos.



sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

O REFEITÓRIO DOS FRADES TRINOS

[.../...] « Lá diz o povo, quando o desastre é grande, que "caiu o Carmo e a Trindade". O terramoto derrubou realmente ambos os mosteiros, e daí a expressão popular, pois nunca mais antigos esplendores seriam recuperados. No entanto, o Convento da Trindade foi reconstruído e permaneceu de pé por mais algumas décadas. Em 1836, iniciadas as demolições, a Câmara dividiu-o em lotes. Planeava-se fazer passar, pelo interior das ruínas, um arruamento. Ainda hoje lemos, nas placas dessa rua, o topónimo completo: Nova da Trindade. A nova serventia que rasgou o convento ao meio.»

                        MARINA TAVARES DIAS, Lisboa Desaparecida



A Cervejaria da TRINDADE, 
antigo refeitório dos frades trinos, 
fotografada por Eduardo Portugal 
na década de 1930

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

O traje típico de Lisboa é «o capote e lenço». Sabia?

[...] Por exemplo, já no início de século XIX, a elegância lisboeta envergava capote em todas as estações, a todas as horas do dia. Havia-os com mangas, cabeção ou gola de veludo. Mas, regra geral, eram mais simples, direitos, com forro de lã e reforço mais curto, protegendo os braços. 

(...)Numa evolução rápida a partir do "josezinho" - casaco curto do final do século XVIII -, passaram de vermelhos a pretos, confirmando a tendência ancestral das lisboetas para trajar de negro. Quando o "josezinho" encarnado ficou sendo pertença exclusiva das saloias de Loures, Queluz ou Mafra, e os lenços de cambraia e musselina foram por estas substituídos pelos barretes, as alfacinhas começaram a talhar o capote em linhas direitas e austeras. 

O lenço inicial manteve-se, mas, de tão ensopada em goma, a tarlatana branca já nem tocava o pescoço. (...) 

[CONTINUA NO LIVRO a explicação da razão pela qual os lisboetas ignoram que este é o traje típico da sua cidade]

MARINA TAVARES DIAS
em
LISBOA DESAPARECIDA,
volume III
capítulo «A Mulher de capote e Lenço»


postal ilustrado editado por Faustino Gomes. 
Fototipia a partir de cliché antigo 
de um dos maiores fotógrafos lisboetas 
do século XIX: Francesco Rocchini

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Os transportes públicos e as saias de balão



Em 1858, reinando já D. Pedro V, o ónibus transformara-se no principal meio de transporte da cidade. As carruagens multiplicavam trajectos pelas ruas e eram facilmente reconhecidas por todos os lisboetas. Embora lhes chamassem bisarmas, não excediam o que hoje consideraríamos um tamanho mediano, transportando cerca de uma dúzia de passageiros em dois bancos corridos virados face a face, ao longo de dez janelas laterais. Entrava-se pelo fundo e o cocheiro ia sentado sobre o tejadilho.

Dizia-se que, quem entrasse, devia encomendar a alma a Deus. As saias de crinolina das mulheres ocupavam três lugares; se estivessem sentadas no final do banco, mais ninguém saía do carro.


IN:
MARINA TAVARES DIAS
em
HISTÓRIA DO ELÉCTRICO DA CARRIS 
(EDIÇÃO OFICIAL DO CENTENÁRIO)

O pobre candidato a passageiro do primeiro 
transporte público urbano da capital. 
Lisboa, 1858. 
Por entre a floresta de saias de balão, rendas e atavios, 
só consegue entrar... voando.

ATENÇÃO, por favor:
ARQUIVO MARINA TAVARES DIAS em organização.

Trabalho voluntário de uma equipa de 3 pessoas. A Câmara Municipal de Lisboa nunca apoiou o trabalho da olisipógrafa Marina Tavares Dias com um cêntimo ou com um elogio. Estamos a tentar organizar o arquivo para complementar o serviço público que, há mais de 25 anos, Marina Tavares Dias realiza, através da sua investigação e da publicação de dezenas de livros célebres.


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terça-feira, 21 de janeiro de 2014

LER +, LER MELHOR, na RTP, com MARINA TAVARES DIAS

LISBOA MISTERIOSA por MARINA TAVARES DIAS

À mesa do Café Nicola, no Rossio, a  Olisipógrafa explica à jornalista Teresa Sampaio, do programa LER MAIS LER MELHOR, alguns dos seus fascinantes textos sobre Lisboa.



https://www.youtube.com/watch?v=Z6REZWK7Mbk

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segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

THE BEAUTIFUL AND LOST CENTRAL MARKET OF LISBON

THE PRAÇA DA FIGUEIRA MARKET

by historian MARINA TAVARES DIAS


« Praça da Figueira (Figtree Market) was one of Lisbon's tourist attractions in the 1900s, appearing on countless illustrated postcards of the time. It was Lisbon's central market place, set up in this locality following the 1755 earthquake. In 1849 it was decorated with wrought-iron railings and given eight large entrance doors. The stalls or «halles» were built in 1883. Each of the main façades was composed of three sections and at each corner there was a tower with a dome. Although it was demolished in 1949, Praça da Figueira still lives on in the city's imagination. When it was destroyed, the city irretrievably lost its main period piece built of iron and glass. In its place today, Figtree Square (“praça” being a common designation for both “market” and “square” in Portuguese) carries on bearing its name and its many memories. [.../...]»



                                             Lisbon's Central Market, demolished in 1949



The empty square nowadays (2014)



domingo, 19 de janeiro de 2014

O «outro livro» da olisipógrafa Marina Tavares Dias | Marina's «different book»

Um pouco do que se escreveu 
sobre o único livro português 
sobre o Titanic



Obra que desafiou 
uma historiadora 
de outras áreas e coordenadas: 
MARINA TAVARES DIAS.


      Margaret (Molly) Brown




Site da Objectiva Editores:

«No ano em que se assinala o centenário do naufrágio do Titanic, surge a primeira obra de um autor português sobre uma das grandes tragédias do século XX.
Um livro profusamente ilustrado, repleto de pormenores sobre o maior navio construído na altura: a existência de um navio “gémeo”, o Olympic, as grandes companhias construtoras e os seus proprietários, a sociedade da época, a vida no interior do navio, os “protagonistas”, os efeitos do naufrágio… detalhes inéditos daquele que foi considerado um dos maiores desastres do século XX.
Os que, em 1912, profetizaram que o Titanic era insubmersível não imaginaram como e até que ponto ele o seria – metaforicamente.

O navio mais célebre do mundo iniciou, na noite do naufrágio, uma longa viagem através do imaginário dos povos. Neste interminável percurso, assume tudo aquilo com que cada um de nós o aparelha dos seus próprios medos, das suas próprias causas e da sua própria alma.
Demanda simbólica, também, de um século em que a humanidade tentou, sem sucesso à vista, reencontrar-se consigo mesma e com o significado da sua obra face à eternidade



Sobre a Autora (ainda pela Objectiva):

MARINA TAVARES DIAS
É jornalista, fotógrafa, escritora e olisipógrafa. Nasceu em 1962 e, desde muito jovem, assinou nos jornais Diário Popular, Expresso e Diário de Lisboa textos e reportagens sobre a cidade, que cedo revelam uma conjugação da investigação apurada com a escrita cativante de quem fala para o grande público.

Em 1987 publica o seu primeiro livro Lisboa Desaparecida (volume I) que lhe vale o Prémio Júlio de Castilho. Ao longo dos 19 anos seguintes, continuando o itinerário lisboeta proposto pelo título, são editados mais oito volumes desta obra pioneira da olisipografia. Outras obras da autora sobre temáticas lisbonenses incluem: A Lisboa de Eça de Queiroz (2001), História do Eléctrico da Carris (2001), História do Futebol em Lisboa (2000), Os Cafés de Lisboa (1999), Lisboa nos anos 40 – Longe da Guerra (1998), Os melhores Postais Antigos de Lisboa (1995), A Lisboa de Fernando Pessoa (1991), Photographias de Lisboa 1900 (1989), Lisboa Misteriosa (2003). 

Além destes títulos, a autora especializa-se ainda na divulgação do Primeiro Modernismo, tendo editado obras sobre Mário de Sá-Carneiro e sobre Fernando Pessoa, além de ser responsável pela apresentação em Paris, na sede da UNESCO, da exposição comemorativa do centenário do nascimento de Mário de Sá-Carneiro (1990).

Marina Tavares Dias nasceu e vive em Lisboa.




ENGLISH

Review by «Carlotta» on Goodreads.com:




«This is the first book written by a Portuguese author on the Titanic subject. The author has chosen to view the story from the historical and sociological point of view. That is why we learn more about the «gilded age» or the steamship companies's story than exactly if the candeleers were round or square. For that you have the pictures, many of them well know, some orignal, some never published before. There is also the referencfe to all the Portuguese passengers and to all the Portuguese newspapers and magazines. I particularly like the pages with the large photos of the interiors because I never even knew they existed with such high definition. A first book for all readers and a must-have for Titanic buffs»



(by publishing this personal review we do not intend to violate any personal copyrights of the present text. The author was informed through the site's mail system and authorized it)



sábado, 18 de janeiro de 2014

OS GRANDES DO FUTEBOL E AS MULTIDÕES QUE OS SEGUEM

HISTÓRIA DO FUTEBOL EM LISBOA
de MARINA TAVARES DIAS

Recepção da equipa portuguesa que esteve nos Jogos Olímpicos de 1928, conseguindo somar vitórias quando o futebol era, como os restantes, «desporto de amadores».

Avenida da Liberdade totalmente cheia. Todos os lisboetas queriam ver de perto os grandes ídolos: Pepe, Roquete, Cândido de Oliveira, António Pinho, Jorge Vieira, etc. Uma equipa feita no paraíso.

Sic transit gloria mundis. Cada um de nós sabe, apenas, o que quis aprender e preservar, para passar em frente. O resto é breve, e morre com a nossa geração. O resto é breve, como o rolar da bola em pleno campo.

Cultivemos a Memória. Porque é a mãe de todas as Musas. Também a única das musas que evita a asneira jornalística, a asneira televisiva e a asneira radiofónica. «Always in motion is the Future».


quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

O PRIMEIRO NICOLA

[...] O apelido Nicola aparece ligado ao comércio da cidade desde meados do século XVIII. Antes do terramoto terá existido pelo menos um italiano Ni­cola, fabricante de velas [...] em plena Baixa, próximo do Pátio das Comedias [área compreendida entre as actuais ruas Augusta e da Prata], tendo mesmo dado origem a um topónimo espontâneo: Beco do Nicola.

[...] Após pesquisa nos livros de despachos régios [...] verificamos a existência de dois Nicolas na Lisboa de 1808: Joaquim Nicola e Nicola Marengo. Um terceiro Nicola é, em 1827, anunciante da “Gazeta de Lisboa”. Possuía casa no número 136 do Campo Grande e aí vendia raízes de plantas oriundas da Itália e da Holanda. Este Nicola Breteiro é, segundo Tinop, o candidato mais provável à identidade real do botequineiro do Rossio, visto terem os seus anúncios na “Gazeta” terminado no preciso ano em que o próprio café foi trespassado: 1829. [..../...]

.... Continua no livro OS CAFÉS DE LISBOA
de MARINA TAVARES DIAS.
O Café Nicola, reconstruído no século XX,
é o último que resta dos clássicos cafés do Rossio


segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

NOS PASSOS DO PAI DE FERNANDO PESSOA, 1888

                                                                                                                   MARINA TAVARES DIAS

« Há um homem magro que sai de S. Carlos e acende o charuto, aproveitando a brisa amena libertada pelas luzes a gás do foyer. O tempo está incerto entre duas nuvens densas. A viagem até à Rua dos Calafates desmotiva-o deveras, agora que lhe apetecia mergulhar directamente na porta do prédio mesmo ali em frente. Mas tem uma crítica para entregar, escrita de véspera como combinado, e veio à segunda récita só para recapitular pormenores mais equívocos: a voz da soprano que fraqueja no momento preciso em que o coro sobe de tom, o olhar indeciso do maestro sobre uma plateia que não conhece. Um mundo cosmopolita tão distante da casa em frente, tão distante do choro em torvelinho do filho pequeno, do ruge-ruge de saias da velha mãe quase louca, dos gritos das criadas sempre que a peixeira passa, do cheiro a canela a repousar no doce de abóbora, em travessas, pelos aparadores. Há um mar de calçada entre a porta de S. Carlos e a vida real por trás das outras janelas do largo. Num certo sentido, pensa, fica mais perto a Rua dos Calafates. Fica mais perto a Redacção do Diário de Notícias. Arrima o ânimo e desvia o olhar da fachada. Resolve em definitivo que vai entregar os papéis hoje, em vez de passar pelo jornal logo de manhã. Tomará pelas escadas sobranceiras à pracinha, na direcção do Largo das Duas Igrejas, sabendo-se antecipado em relação à onda humana que, dentro de minutos, inundará o Chiado. [.../...] » 

(continua no livro)

MARINA TAVARES DIAS.

livro: LISBOA NOS PASSOS DE PESSOA


domingo, 12 de janeiro de 2014

O MAGNÍFICO EDIFÍCIO BEZELGA

A ex-Farmácia Bezelga, prédio que devia constar do património municipal inventariado em pormenor.
É o único edifício cuja cantaria foi toda talhada para albergar uma farmácia, com símbolos como o caduceu, a cobra, a taça, etc.

Único exemplar em Lisboa e, provavelmente, em todo o país. É uma maravilha lavrada em pedra.

Infelizmente, os adornos do topo do prédio foram apeados e vendidos há mais de 3 décadas. Seja como for, este é o célebre Bezelga, que foi o maior farmacêutico da cidade.

Agora é um fast-food Ali-Babá.

Pelo menos, já não se trafica ali droga, como há 5 anos, quando era taberna...

Passe por lá e... enjoy. Cruzamento da Almirante Reis com a Rua Andrade. Um dos mais belos prédios da cidade.






Este invulgaríssimo cruzamento triplo, que demarca o sítio onde foi interrompida a ancestral Rua dos Anjos para ser aberta a novecentista Avenida Almirante Reis merecia ser classificado na íntegra. Classificado e vigiado, para não acontecer a estes prédios o que aconteceu à loja arte-nova do número 17 da Almirante Reis. Ou o que já aconteceu a um dos gavetos: o do antigo Cinema Lys, hoje completamente desfigurado.








Sobre Bezelga, que foi fundador de jornais e propagandista republicano, remetemos os leitores para o segundo volume da LISBOA DESAPARECIDA. A sua história vale bem a pena ser lida.

Fotografias actuais: ARQUIVO MARINA TAVARES DIAS, 2013.

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

A Empresa Cerâmica de Lisboa, no coração de Campo de Ourique

LISBOA DESAPARECIDA
de
MARINA TAVARES DIAS

Ilustração do capítulo sobre CAMPO DE OURIQUE,
no volume VII

A Empresa Cerâmica de Lisboa. Onde hoje está a Igreja do Santo Condestável. Fotografia em albumina sobre cartão, fomato, 40 X 30 cm. Rua Saraiva de Carvalho em 1904.


quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

2014: Um desejo por cada colina

LISBOA COMEÇA UM NOVO ANO.



Que 2014 seja ano de:

- Menos património demolido e abandonado.

- Menos negociatas para especulação de terrenos em zonas específicas.

- Mais alegria e animação nas ruas do centro.

- Mais lisboetas a regressarem à capital para morarem com a sua família.

- Mais segurança em todas as freguesias.

- Menos obras megalómanas que desfiguram as avenidas principais.

- Menos licenciamentos sem que quem os assina vá (realmente) ver o que está em causa.




BOM ANO A TODOS OS LISBOETAS.

Marina Tavares Dias e a equipa do blog.