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quarta-feira, 23 de março de 2022

A SEVERA


Texto de Marina Tavares Dias 
sobre o nascimento do cinema sonoro português. 
Pequeno excerto:

«[...] O cinema sonoro português só surgirá em 1931, e apenas «pela metade». Em rápido desvio da linha vanguardista até então assumida, Leitão de Barros retorna às fitas inspiradas nos clássicos literários. 

A peça A Severa, de Júlio Dantas, já fora veículo para consagração das actrizes dos primeiros anos do teatro popular do século XX (Palmira Bastos ou Palmira Torres). Pretendia fazer «drama musical» da biografia romanceada de Maria Severa Onofriana.

Na peça que inspira o filme, lá reaparece a Severa transformada em logótipo, de saia encarnada e chinela de polimento, olhares lânguidos e românticos, em tudo contrários à meretriz que habitou a Mouraria oitocentista. Para cúmulo, chegara Dantas a trocar o nome do amante da fadista, por receio de ofender os herdeiros. [...]» 

MARINA TAVARES DIAS 
em Lisboa Desaparecida, volume III





segunda-feira, 17 de março de 2014

A LENDA DA SEVERA

A Severa num estudo 
incompleto de Alberto
de Souza, inspirado na figura
de Palmira Torres no papel
da peça homónima de Júlio Dantas.
A verdadeira Maria Severa nada
teria a ver com estas romanceadas versões
de chinela de verniz a saiotes encarnados



[...] Por volta de 1845, batia-se o fado por tudo quanto era lugar de boémia, desde a Calçada de Carriche até aos botes do Tejo, passando pelas tabernas do Bairro Alto e pelas vielas da Mouraria. Ouviam-se guitarradas no Arco do Cego e na Madre de Deus, no Lumiar e nas Laranjeiras, no Quebra-Bilhas do Campo Grande e na praça de touros do Campo de Santana. 

Nas esperas de gado, nas hortas, nos prostíbulos e nos palácios. Tudo terreno lavrado e sequioso para semear uma tradição e para erguer uma lenda. Assim sucedeu. Enquanto o marquês de Castello-Melhor, o conde de Anadia ou o conde de Vimioso organizavam serões onde punham a nobreza a par da terminologia fadista, a Lisboa da rua, a Lisboa popular ia sedimentando os futuros mitos. O primeiro de todos, heroína digna de romance de cordel, rouxinol da Mouraria, prostituta recebida pelos nobres, foi Maria Severa Onofriana.[...]
MARINA TAVARES DIAS
Continua na LISBOA DESAPARECIDA,
volume IV