ADEUS, BELÉM HISTÓRICA
«O processo do edifício número 138 da Rua de Belém não consta hoje de qualquer arquivo camarário consultável. Em vão tentei localizá-lo, ao longo de meses, enquanto procedia à análise de todos os outros documentos referentes aos demolidos em 1939. Proprietários dos restantes prédios da Rua de Belém foram informados sobre indemnizações e prazos; mesmo quando os prédios eram propriedade municipal, o respectivo processo inclui documentos referentes às lojas locais. Porquê, então, esta misteriosa omissão do número 138?
Acontece que, confirmando aquilo que diziam as pessoas do burgo, a referida casa guardava, nos seus alicerces, ruínas históricas contemporâneas da antiga capela do Infante. Quando as demolições do quarteirão começaram, rapidamente foram postas a descoberto antigas abóbadas. Ordens superiores mandaram então suspender os trabalhos, permanecendo o pequeno edifício entre as ruínas dos seus vizinhos, enquanto se decidia o que fazer do achado. Nada transpareceu nos jornais, e a demolição acabou por consumar-se, pois já não havia tempo para alterar quaisquer planos. Uma imprevisível descoberta acabou por tornar claro aquilo que, à época, ainda seria discutível: que a homenagem à história pátria se fazia à custa do desaparecimento de testemunhos dessa mesma história. (...)
continua no livro
Forografia: Mestre Horácio Novaes, prova original da época.
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