sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Em vésperas do Dia dos Mortos (Fiéis Defuntos)

Marina Tavares Dias
em
Lisboa Misteriosa:

"As piadas macabras sempre andaram associadas aos defuntos e aos enterros. No entanto, aparecem quase inocentemente na publicidade. Muitos anos depois da recolha do Taful de Luneta, já no início do século XX, fazia furor em Lisboa o letreiro de um retiro que, situado no caminho seguido pelos funerais para o Alto de S.João, procurava cativar potenciais clientes. Ir dar de beber à dor antes da descida do defunto à sepultura seria impensável. Mas, no regresso, haveria de se molhar o bico. A subida era acentuada e o caminho, sobretudo no Verão, percorrido com sacrifício. Assim, o célebre Manuel dos Passarinhos tinha, em letras garrafais, sobre a porta, a toda a largura da fachada: «Não se Esqueçam na Volta / Bons Vinhos e Bons Petiscos». 

Tendo em conta a feira em tempos instalada mesmo à porta do Cemitério dos Prazeres, este retiro nem era muito ofensivo para os familiares dos «fiéis defuntos». A gradual laicização da sociedade, sobretudo após implantação da República, levou a que os cemitérios principais de Lisboa passassem a ser conhecidos por Oriental e Ocidental. Mas as velhas designações de cada um dos locais acabariam por vingar, parecendo ainda hoje estranho que alguém mande seguir um féretro para os Prazeres. Em implícitas promessas de um mundo melhor, nada bate, contudo, a actual Funerária da Ajuda e Boa-Hora (ou Boa-Hora e Ajuda). Pode dizer-se que abarca, só na designação, o «pack» completo da arte de bem morrer.[...]" (continua no livro)






Sem comentários:

Enviar um comentário