domingo, 2 de fevereiro de 2014

BENFICA E O RETIRO FERRO DE ENGOMAR




POR
MARINA TAVARES DIAS

em
LISBOA DESAPARECIDA
(excertos)



«A partir da Quinta das Laranjeiras, a estrada multiplicava-se em edifícios nobres [...] na longa cadeia de jardins e pomares que povoavam o vale de Benfica.»

[...]

«À direita, quase fronteiro ao gradeamento da propriedade do conde de Farrobo, ficava o Convento de Santo António da Convalescença - fundado em 1640 e pertencente aos frades capuchinhos. O edifício foi comprado, após a extinção das ordens, por João Gomes da Costa, que o transformou em casa de campo. »
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«Do mesmo lado da estrada, as quintas maiores e mais conhecidas eram as do Lodi (com uma ermida neo-gótica), do Moller (onde João da Silva Carvalho inaugurou, em 1860, um gabinete fotográfico), a do Soeiro, e, a caminho do Calhariz, a Alfarrobeira, onde se instalou o Hospício de Santa Isabel. »

[...]


Um almoço no Retiro Ferro de Engomar em 1940


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«Antes do desvio para o lugar do Calhariz, existiu - e existe ainda - um dos mais famosos retiros dos arredores: o Ferro de Engomar. O edifício original, de meados do século XIX, possuía o característico pátio com latadas. Na sala de jantar, com a configuração de um ferro de engomar (daí o nome celebrizado), cabiam 300 convivas.»
[...]

«Manuel Inácio, proprietário, beirão natural de Avô, [....] lembrava-se bem do tempo das patuscadas nos arredores, quando o número do telefone que mandou instalar era o 82. [...] e falou-nos do tempo em que um eléctrico parado a meio da Estrada de Benfica (enquanto o guardo-freio vinha "matar o bicho" ao Ferro de Engomar) não incomodava ninguém.»
[...]

«Demolido em 1953, o antigo Retiro do Ferro de Engomar foi substituído por prédios novos. Mas o restaurante subsiste, no mesmo local (ocupando o andar térreo de dois edifícios), conservando o seu "espírito" e as suas especialidades gastronómicas.»

2 comentários:

  1. Restaurante familiar, com grande tradição desde 1918 , antigo Retiro Ferro de Engomar, onde se cantava o fado, fora de portas. Actualmente gerido por D Lourdes Bernardo, situa-se na Estrada de Benfica 439.

    HISTÓRIA DO FERRO DE ENGOMAR
    Maria do Carmo Fontes Páscoa Bernardo, que se acompanhava à guitarra, que aprendera a tocar com um tio, foi aprendiz de costureira na casa Ramiro Leão e mais tarde costureira com atelier próprio. Teófilo Braga ( que morava na casa em frente à sua ), estimulou-a a cantar canções populares. Com apenas 11 anos foi uma das primeiras fadistas a cantar fora de portas. Era conhecida por Maria do Carmo Alta , alcunha que lhe foi dada devido à sua elevada estatura, e para a distinguir de outra importante cantadeira da altura, Maria do Carmo Torres.

    Maria Alice, que iniciou a sua carreira no Retiro Ferro de Engomar, era o nome artístico de Glória Mendes, mais tarde Glória Mendes Leal de Carvalho, por ter casado com Valentim de Carvalho, dono da editora discográfica com o mesmo nome. Faleceu em Lisboa em 1997, tendo sido dado o seu nome a uma rua de Lisboa.

    Maria do Carmo Alta, que fez várias digressões ao Brasil, além do seu prestígio como cantadeira, era muito organizada e empreendedora, o que a levou a fundar o retiro FERRO DE ENGOMAR , que geriu em conjunto com Alberto Costa, outro grande fadista ( cerca de 1918 ). Foi o primeiro Restaurante-Retiro com elenco privativo, onde se cantava o fado às segundas , quartas e sábados e onde acorriam figuras importantes de Lisboa. Mais tarde Maria do Carmo convidou Maria Alice para sócia do Ferro de Engomar. Assim, as duas sócias MARIA DO CARMO FONTES PÁSCOA BERNARDO e GLÓRIA MENDES , formaram a firma MENDES & BERNARDO LDA, sociedade esta que foi adquirida pelo Sr Manuel Bernardo em 1938. O Sr Manuel Bernardo casou em 1953 com D. Lourdes Amélia Mendes Flora Bernardo que continua a gerir, com a mesma firma, o Restaurante Ferro de Engomar.
    Mas a História do Ferro de Engomar remonta a tempos muito mais distantes, pois já na edição da "História do Fado" de Pinto de Carvalho, na edicão de 1903, se pode ler:
    " A partir de 1846, já se guitarreava o fado ( …) nas hortas e retiros populares ( …) como sucedia na Moita das Tripas, no Escoveiro, no Ezequiel do Dafundo, no Miséria da Estrada de Palhava, no Campo Pequeno, no Arco do Cego e no Beato António … no Nova Sintra da Calçada de Carriche, na Joana do Colete Encarnado, ao Campo Grande, no Cá e Lá, do José Galinheiro, no José dos Patacos e no Retiro do Pardal, no Zé dos Caracóis, no Rouxinol, nos Terramotos, na Quinta do Ferro de Engomar, no Pedro da Porcalhota, no Manel dos Passarinhos e no retiro do Quebra-Bilhas ao Campo Grande ( …) onde se fadejava nas noitadas das esperas de toiros".
    Pinto Carvalho, História do Fado

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  2. fiz la muitas refeiçopes ja depois das obras nos anos 80


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