MARINA TAVARES DIAS
em
LISBOA DESAPARECIDA,
volume IV:
[.../...] O edifício inicial do "DN", à esquina Travessa do Poço da Cidade com a Rua dos Calafates (mais tarde Rua do Diário de Notícias), pertencia às oficinas de Quintino Antunes. Há registos de tipografias ali instaladas desde, pelo menos, 1740. Na primeira metade do século XIX, por lá passou José Baptista Morando, um dos mais afamados impressores do seu tempo. Em 1862, a Tipografia Universal imprimia, no prédio, vários jornais anteriores ao "Notícias": "O Conservador", o "Jornal de Lisboa", "O Paiz", o "Commercio de Lisboa", a "Chronica dos Theatros" e o "Progresso e Ordem".
[...]
Três meses após a fundação, o "DN" tinha já, em exclusivo, 30 jovens vendedores pelas ruas de Lisboa, realizando uma média diária de 350 réis. Com ele nascera a imagem do ardina lisboeta, hoje perpetuada na estátua que, em S. Pedro de Alcântara, rende homenagem a Eduardo Coelho. Alguns destes rapazes revelavam, com o tempo, dotes para a escrita. João Baptista Borges, por exemplo, começou por apregoar o "Notícias" pelas ruas. Eduardo Coelho mandou-o para a escola e para um estágio na tipografia. Rapidamente passou a revisor de provas e, logo a seguir, a redactor. Chegou a ter a seu cargo a mais importante secção do jornal: o folhetim diário.
[...]
Eduardo Coelho, figura tutelar na Imprensa portuguesa do século XIX, possuía um perfil digno destes milagres. Nascera de família simples, a 22 de Abril de 1835, em Coimbra, numa rua que hoje tem o seu nome. Quando morreu, em Lisboa - noutra rua que hoje tem o seu nome -, era o mais conhecido jornalista português. O pai fora construtor civil e morrera-lhe quando ele tinha 13 anos. Orfão, veio para Lisboa e empregou-se como caixeiro na Baixa. O horário desse tempo não dava margem para grandes sonhos, fossem eles durante o sono ou não. As lojas abriam quase sempre às sete da manhã e não fechavam antes das dez, onze da noite. Não havia horário certo nem pausas para refeições: comia-se qualquer coisa quando a loja estava vazia ou quando um colega podia, sozinho, dar conta do serviço por alguns minutos.
Mas Eduardo Coelho assumia o martírio com ironia. Ainda estava atrás dum balcão quando publicou o seu satírico "Livrinho dos Caixeiros", com quadras cheínhas de revolta e de fel. O patrão não gostou, mas não despediu o funcionário exemplar. Foi este quem, após estudos e noites em claro, se fez 'mestre' de francês e partiu rumo ao futuro. Qual Bernardo Soares, morou numa mansarda da Rua dos Douradores. Passou fome. Passou mal. Tentou suicidar-se. Em 1857, entrou para a secção de composição da Imprensa Nacional. E a vida, num ápice, mudou.
Próximo daquilo que sempre o fascinara - a letra redonda -, multiplicou escritos e livros, até se fazer notar. Colaborava em inúmeras publicações. Entre elas, as que eram impressas na tipografia de Quintino Antunes. Quando os dois homens se conheceram, começaram a falar da fundação de um jornal. Esse jornal seria o "Diário de Notícias". [...]
Eduardo Coelho, figura tutelar na Imprensa portuguesa do século XIX, possuía um perfil digno destes milagres. Nascera de família simples, a 22 de Abril de 1835, em Coimbra, numa rua que hoje tem o seu nome. Quando morreu, em Lisboa - noutra rua que hoje tem o seu nome -, era o mais conhecido jornalista português. O pai fora construtor civil e morrera-lhe quando ele tinha 13 anos. Orfão, veio para Lisboa e empregou-se como caixeiro na Baixa. O horário desse tempo não dava margem para grandes sonhos, fossem eles durante o sono ou não. As lojas abriam quase sempre às sete da manhã e não fechavam antes das dez, onze da noite. Não havia horário certo nem pausas para refeições: comia-se qualquer coisa quando a loja estava vazia ou quando um colega podia, sozinho, dar conta do serviço por alguns minutos.
Mas Eduardo Coelho assumia o martírio com ironia. Ainda estava atrás dum balcão quando publicou o seu satírico "Livrinho dos Caixeiros", com quadras cheínhas de revolta e de fel. O patrão não gostou, mas não despediu o funcionário exemplar. Foi este quem, após estudos e noites em claro, se fez 'mestre' de francês e partiu rumo ao futuro. Qual Bernardo Soares, morou numa mansarda da Rua dos Douradores. Passou fome. Passou mal. Tentou suicidar-se. Em 1857, entrou para a secção de composição da Imprensa Nacional. E a vida, num ápice, mudou.
Próximo daquilo que sempre o fascinara - a letra redonda -, multiplicou escritos e livros, até se fazer notar. Colaborava em inúmeras publicações. Entre elas, as que eram impressas na tipografia de Quintino Antunes. Quando os dois homens se conheceram, começaram a falar da fundação de um jornal. Esse jornal seria o "Diário de Notícias". [...]
CONTINUA NO LIVRO
Edifício do Bairro Alto que albergou o Diário de Notícias até 1940.
Busto do fundador, Eduardo Coelho, no jardim de S. Pedro de Alcântara
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