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quinta-feira, 5 de maio de 2022

PEÇAS DO ARQUIVO MTD

  




A Photographia Rocha, Praça da Alegria de Baixo, especializava-se em retratos de actores. [...] 

  Os lisboetas de agora não podem imaginar como o público de 1870 adorava o Teatro do seu tempo. Eram sessões seguidas, todos os dias. Lotações sempre esgotadas. [...] Aqui estão os grandes actores Queiroz, Leone, Augusto e, à direita, Brazão. O futuro «grande Senhor» da Companhia Rosas e Brazão, aqui tão jovem, não parece o mesmo Eduardo Brazão de 1900, já coroado de glória. Parecem todos muito contentes. Tentariam replicar um quadro da peça em cena? - O futuro já não ouve, em surdina, a motivação destas poses. Mas é bom saber que, num dia qualquer, algures entre 1865 e 1870, estes cavalheiros resolveram encenar-se, em conjunto, frente à lente da câmara do Sr. Rocha. Casa fotográfica que foi demolida para se rasgar a Avenida da Liberdade. 

 E os teatros onde eles representavam? - Esses, desabaram sob o camartelo municipal, um a um. O empresário trocou de elenco, provavelmente, logo na peça seguinte. E eles, os actores, foram perdendo a juventude quase espampanante aqui exibida. O público foi morrendo, até não restar alguém que os tenha visto em palco. O clamor dos aplausos passou. Outros famosos ocupam o imaginário de outra época. Outros que o público futuro igualmente esquecerá. 
 
 Desse tempo, dessa fama, dessa glória, desse quotidiano, desse mundo - ficou esta fotografia. 


 MARINA TAVARES DIAS

quarta-feira, 28 de maio de 2014

PEÇAS DO ARQUIVO MARINA TAVARES DIAS

PEÇAS CURIOSAS 
DO ARQUIVO MARINA TAVARES DIAS





Na primeira década da segunda metade de Oitocentos, rara seria a família nobre ou burguesa que não tivesse, em cima da mesa da sala, o álbum das fotografias «carte-de-visite». Presume-se que terá sido o fotógrafo Disderi, com atelier em Paris, quem as celebrizou. Há quem diga que as inventou também. Pequenos rectângulos de papel albuminado serviam para captar a luz do negativo. Estas fotografias eram, depois, montadas em cartolinas, geralmente com o nome ou logótipo do fotógrafo na base ou no verso do cartão.

Ainda hoje, aparecem aos milhares, em leilões «on line», em feiras, em qualquer parte onde se vendam papéis velhos.

O que pouca gente saberá é que, ao serem entregues ao cliente (que geralmente encomendava meia ou uma dúzia), vinham em pequenas caixas de cartolina lavrada a quente, com desenhos, pequeno fecho e o nome do fotógrafo. Dessas caixas só sobreviveram aquelas cujas fotografias nunca chegaram a ser dadas a amigos ou parentes.

Aqui está a caixa para cartes-de-visite da Photographia Universal, na Rua Oriental do Passeio Público, Lisboa (correspondia ao actual lado oriental da Avenida da Liberdade, rasgada entre 1879 e 1886). A julgar pelas fotos no interior, deve datar dos anos entre 1865 e 1870.

quarta-feira, 19 de março de 2014

Ah, a Capital!


Actores do Nacional, 
em noite de ensaio geral, 
posam no restaurante 
do Café Martinho (c. 1910)


- P’ra o Martinho, hein? E Arthur foi-os seguindo timidamente, ansioso por ver o Martinho!
Pareceu-lhe esplêndido, com a acumulação de chapéus altos entre os espelhos dourados, sob uma névoa de fumo de tabaco, no bru-á-á contínuo das conversas. Não se atreveu a entrar. À porta um grupo palrava, e Arthur contemplava-o de longe, com devoção, pensando que deviam ser poetas e estadistas…

Eça de Queiroz, A Capital!

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

... E se a saia escondesse um homem de cócoras?


Excerto do capítulo sobre 
A MODA EM LISBOA
por 
MARINA TAVARES DIAS
em
LISBOA DESAPARECIDA


«[..../....] Símbolo por excelência do Romantismo, a saia de merinaque, com os seus arcos de barbas de baleia e a sua estrutura de gaiola, ficará para sempre ligada à época de ouro do Passeio Público. 

Madame Seissal foi a primeira lisboeta a ostentar crinolina, sendo vaiada e coberta de ridículo em pleno Passeio, recolhendo precipitadamente a casa. Mas por volta de 1860 já se usava crinolina mesmo nos veraneios pela praia ou nos piqueniques campestres, e até as figurantes do Teatro de S. Carlos exibiam sempre saias de balão, mesmo quando o libreto da ópera contava uma história passada na Antiguidade clássica. 




Dançava-se de crinolina nos salões, sempre com mil cuidados para que a proximidade do par não permitisse o desequilíbrio da estrutura: um leve encosto pela frente levantava a saia atrás, desvendando tudo o que estivesse ou não por baixo. [... ] 



Quem saísse à tarde para o Passeio Público encontrava um verdadeiro mar de merinaques cobertos de todas as cores, tecidos e enfeites possíveis. A silhueta da mulher voltara às composições aparatosas e à prisão das formas caricaturais. Mesmo assim, os puritanos reclamavam contra o uso de crinolinas: segundo eles, estas podiam muito bem refugiar, sob a abóbada das barbas de baleia, um amante oculto, de cócoras.»



domingo, 26 de janeiro de 2014

O fotógrafo Fillon, «afilhado» de Victor Hugo, e as suas moradas lisboetas

O fotógrafo francês Alfred Fillon (1825-1881) veio para Portugal com uma carta de recomendação do escritor Victor Hugo. Iniciou a actividade no Porto (na antiga Rua das Hortas), chegando a Lisboa por volta de 1859, ano em que inaugurou o seu primeiro atelier, na Rua das Chagas, número 13. Henrique Nunes tomou este estúdio de trespasse em 1866, porque Fillon queria regressar a Paris. De novo envolvido em escândalos políticos na sua terra, o francês volta definitivamente para Lisboa em 1873, adquirindo então o antigo atelier Plessix, na Rua Nova dos Mártires, número 46. Na revista-jornal Contemporâneo, em 1875, cada edição era ilustrada com uma albumina em tamanho de carte-de-visite e assinada por Fillon. O seu sucessor viria a ser Augusto Bobone, cujos cartões de montagem das albuminas continuariam a ostentar o nome do estúdio do seu mestre.

Ler sobre o atelier Fillon,
fotógrafo da Casa Real, 
no volume VII da 
LISBOA DESAPARECIDA de
MARINA TAVARES DIAS







quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Os transportes públicos e as saias de balão



Em 1858, reinando já D. Pedro V, o ónibus transformara-se no principal meio de transporte da cidade. As carruagens multiplicavam trajectos pelas ruas e eram facilmente reconhecidas por todos os lisboetas. Embora lhes chamassem bisarmas, não excediam o que hoje consideraríamos um tamanho mediano, transportando cerca de uma dúzia de passageiros em dois bancos corridos virados face a face, ao longo de dez janelas laterais. Entrava-se pelo fundo e o cocheiro ia sentado sobre o tejadilho.

Dizia-se que, quem entrasse, devia encomendar a alma a Deus. As saias de crinolina das mulheres ocupavam três lugares; se estivessem sentadas no final do banco, mais ninguém saía do carro.


IN:
MARINA TAVARES DIAS
em
HISTÓRIA DO ELÉCTRICO DA CARRIS 
(EDIÇÃO OFICIAL DO CENTENÁRIO)

O pobre candidato a passageiro do primeiro 
transporte público urbano da capital. 
Lisboa, 1858. 
Por entre a floresta de saias de balão, rendas e atavios, 
só consegue entrar... voando.

ATENÇÃO, por favor:
ARQUIVO MARINA TAVARES DIAS em organização.

Trabalho voluntário de uma equipa de 3 pessoas. A Câmara Municipal de Lisboa nunca apoiou o trabalho da olisipógrafa Marina Tavares Dias com um cêntimo ou com um elogio. Estamos a tentar organizar o arquivo para complementar o serviço público que, há mais de 25 anos, Marina Tavares Dias realiza, através da sua investigação e da publicação de dezenas de livros célebres.


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