domingo, 9 de novembro de 2014

A saga do namoro do final de Oitocentos não tem capítulo dedicado à privacidade






MARINA TAVARES DIAS

em
LISBOA DESAPARECIDA:

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A saga do namoro lisboeta do final de Oitocentos não tem capítulo dedicado à privacidade. Nenhuma rede social da Internet poderá, hoje em dia, expor ao ridículo um namoro, do modo como era exposto, por força das circunstâncias, ainda em 1910. Todos os bilhetes trocados eram entregues a galegos moços-de-fretes, todas as confidências feitas da rua para o terceiro andar eram conhecidas pelos vizinhos e pelo guarda nocturno de giro. Um beijo era calamidade a discutir entre parentes, e a noiva raras vezes sabia do casamento antes dos familiares mais velhos terem acordado a data. 

Vários anos após a proclamação da República, ainda Mário de Sá-Carneiro conota Lisboa com casas escuras, cheiro a alfazema e «parentes que não deixam sair as raparigas». É perante este quotidiano que surge, em 1909, uma Liga Republicana das Mulheres Portuguesas defendendo já a promulgação da lei do divórcio. Entre as pioneiras estão, obviamente, as intelectuais da época, nomeadamente a única mulher que futuramente aparecerá retratada como um dos pioneiros da República: Ana de Castro Osório.
[CONTINUA NO LIVRO]

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